Pode-se afirmar que os aminoácidos representam os blocos de construção do músculo esquelético e de outras proteínas que integram o corpo humano.
De um total de 20 diferentes aminoácidos que podem formar as diversas proteínas presentes no corpo humano, 9 são considerados “aminoácidos essenciais” por não poderem ser sintetizadas nos tecidos corporais e têm obrigatoriamente de ser obtidas a partir da dieta.
No conjunto de 9 aminoácidos essenciais incluem-se os aminoácidos de cadeia ramificada. São eles a leucina, isoleucina e valina, e constituem cerca de 14% do total de aminoácidos que constituem as proteínas do músculo esquelético.
Os aminoácidos de cadeia ramificada, ou BCAAs, são dos suplementos mais consumidos (36,8%) pelos portugueses que frequentam os ginásios.
A sua popularidade baseia-se na crença, alimentada por campanhas de marketing financiadas por empresas de suplementos, de que os BCAAs têm propriedades anabólicas e anti-catabólicas.
Kaspy et al. (2023)
Em 2023 Kaspy e colegas conduziram uma revisão narrativa da literatura com o objetivo de analisar os estudos que testaram os efeitos dos BCAAs na síntese, e degradação de proteína muscular.
A partir dos estudos incluídos na sua revisão, estes investigadores verificaram que, efetivamente, a ingestão de BCAAs após uma sessão de treino resistido, parecem aumentar as taxas de síntese de proteína muscular. No entanto, o potencial anabólico derivado da ingestão de BCAAs é inferior ao da ingestão de uma dose suficiente de proteína.
De acordo com Kaspy e colegas, para estimular de forma ótima as taxas de síntese de proteína muscular após o exercício resistido, parece ser necessário ingerir o conjunto completo de aminoácidos essenciais, incluindo a leucina, isoleucina e valina, a partir de uma proteína de alta qualidade como a proteína whey.
Isto ficou demonstrado num estudo que comparou a suplementação com 5,6 g de BCAAs versus 20 g de proteína whey isolada (contendo 10 g de aminoácidos essenciais e 4,8 g de BCAAs) na taxa de síntese de proteína miofibrilar, após uma sessão de treino resistido.
Como se pode ver no gráfico acima, a ingestão de BCAAs elevou a taxa de síntese de proteína em 22%, enquanto a ingestão de proteína produziu um aumento de 37%.
Outro estudo comparou o impacto da suplementação com 6 g de BCAAs com 30 g de proteína de leite (contendo 6 g de BCAAs) na síntese de proteína miofibrilar, em jejum, e sem realizar treino resistido.
Neste caso, e como transparece no gráfico acima, durante as primeiras 2 horas, a suplementação com BCAAs produziu aumentos da síntese de proteína equiparáveis ao da proteína de leite. No entanto, a suplementação com 30 g de proteína elevou mais a síntese de proteína ao longo das 2 a 5 horas após a sua ingestão.
Estes autores explicam que, embora a toma isolada de BCAAs possa elevar a taxa de síntese de proteína muscular, este aumento é temporário e inferior ao que ocorre com a ingestão de uma proteína de elevada qualidade que forneça todos os aminoácidos essenciais.
Estes investigadores concluíram:
A ingestão de proteína de alta qualidade, que forneça o conjunto completo de aminoácidos essenciais (incluindo BCAAs) suporta de forma mais eficaz o aumento das taxas de síntese de proteína muscular após uma refeição do que a ingestão de apenas BCAAs, e é necessária para otimizar a resposta anabólica aguda ao exercício e à nutrição.
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