A obesidade encontra-se classificada como uma doença crónica cuja prevalência tem vindo a aumentar ao ponto de atualmente ser considerada uma pandemia.¹
Atualmente, verifica-se que a maioria da população europeia (60%) encontra-se na categoria de pré-obesidade, ou obesidade.¹
Em Portugal o cenário é relativamente similar, com 57,1% dos indivíduos a apresentar um índice de massa corporal ≥25 kg/m².²
Logicamente, esta população numerosa representa um mercado apetecível para as empresas envolvidas na produção e/ou comercialização de suplementos alimentares, que ambicionem aumentar as suas vendas.
Do conjunto de suplementos direcionados para a perda de peso/gordura, destacam-se os termogénicos, os quais, supostamente, promovem um aumento da lipólise através de um aumento do metabolismo, induzido por determinados compostos presentes nesses suplementos.
Mas será que os suplementos termogénicos efetivamente facilitam a perda de peso ou de gordura em indivíduos pré-obesos ou obesos?
Clarke et al. (2021)
Em 2021, os investigadores James Clark e Sarah Welch publicaram uma revisão sistemática e meta-análise que teve como propósito determinar os efeitos dos suplementos termogénicos na composição ~
corporal.
Esta investigação apenas incluiu estudos que envolveram seres humanos adultos (18-60 anos) com excesso de peso ou obesidade.
As meta-análises conduzidas neste trabalho incluíram 21 estudos, cuja duração em média 20,1 semanas, tendo variado entre um mínimo de 8 e um máximo 108 semanas.
Estes estudos testaram a toma isolada ou em diversas combinações, dos seguintes compostos: Extrato de chá verde ou derivados [Polifenóis, Catequina, Galato de epicatequina (ECG), Galato de epigalocatequina (EGCG)], Guaraná, Raiz de gengibre, Garnicina cambogia, Irvingia gabonensis, Moringa oleífera, Murraya koenigii, Curcuma longa, Cafeína, Efedrina, Sinefrina, Carnitina, Narangina, Tirosina, Fentermina, Salicina, Lorcaserina, Topiramato, Cloridrato de catina, Ácido pantoténico, Ácido hidroxicítrico, e Ácido clorogénico.
Resultados
Relativamente ao grau de eficácia dos suplementos “termogénicos”, independentemente do tipo de suplemento ou princípio ativo testado, observou-se uma tendência geral para a ausência de efeitos benéficos ao nível da perda de peso corporal e perda de massa gorda.
Na verdade, os autores desta revisão apontam para uma diminuição crónica da taxa metabólica em repouso após a suplementação com "termogénicos", que invalida os seus putativos efeitos benéficos ao nível do metabolismo.
Apenas se registou uma tendência geral para efeitos positivos na manutenção da massa magra, que provavelmente não constituirá o principal objetivo daqueles com excesso de adiposidade.
Efeitos secundários
Será importante referir que 10 dos estudos incluídos nas análises reportaram a ocorrência de efeitos secundários derivados da suplementação com termogénicos, que afetou 43% dos participantes em média.
Estes efeitos colaterais incluíram eventos cardiovasculares, ansiedade, perturbações do sono, e problemas gastrointestinais.
Os autores deste trabalho informam ainda que as dosagens usadas nos suplementos termogénicos poderem ter efeitos tóxicos no fígado.
Estes investigadores concluíram:
As análises indicam que o grau de eficácia ao longo dos estudos é limitada e não favorece o uso terapêutico de suplementos alimentares.
Também não houve nenhuma indicação de que a inclusão de suplementos “termogénicos” ou “queimadores de gordura” são mais eficientes do que o exercício, ou a combinação de dieta e exercício.
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