A verdade é que todos os suplementos que já existiram, todos aqueles que estão presentes no mercado e ainda todos aqueles que irão ser lançados podem funcionar. Quer saber como? Simplesmente devido ao efeito placebo.
E o que é o efeito placebo? Bom, pode-se afirmar que o efeito placebo é um resultado favorável que tem como origem a crença de que se recebeu um tratamento benéfico, como por exemplo, acreditar que um determinado suplemento tem propriedades ergogénicas (1).
O efeito placebo é um fenómeno conhecido pela medicina desde há vários séculos, mas cujos mecanismos ainda não estão completamente esclarecidos, sendo ainda objeto de investigações na atualidade. Acredita-se que o primeiro estudo controlado com placebo tenha sido realizado em 1799 (2).
O placebo é geralmente uma substância inerte (por vezes contendo apenas amido), que em princípio não deveria ter a capacidade de exercer um determinado efeito, mas que acaba por provocar algum efeito positivo relevante, podendo ser um efeito do tipo analgésico, antidepressivo, de melhoria de vários tipos de problema de saúde e até mesmo uma melhoria do rendimento desportivo (2).
Acredita-se que o efeito placebo exerce os seus efeitos sobretudo através de uma influencia positiva em vários factores como as as expectativas, os desejos e as emoções (2).
O efeito placebo no desporto
Na área do desporto temos vários exemplos de como a expectativa de receber um fármaco ou suplemento ergogénico se traduz em maiores ganhos de força ou numa melhoria do rendimento desportivo, mesmo quando se recebe uma substância inerte (placebo) em vez de um fármaco ou suplemento ergogénico que realmente contém uma substância ativa.
Por exemplo, nos anos 70 foi realizado um estudo no qual os pesquisadores estudaram o efeito placebo em atletas de halterofilismo. Para esse efeito, eles reuniram 6 voluntários que já treinavam há pelo menos dois anos seguidos e informaram-nos de que iriam receber 10 mg de Dianabol (um esteroide anabolizante) (3).
Mas, em vez disso, os voluntários receberam um placebo todos os dias, durante 4 semanas, sendo que durante esse período de tempo obtiveram ganhos mais rápidos de força na maioria dos exercícios; supino, agachamento e desenvolvimento, em comparação com o período de tempo em que não treinaram sob o “efeito placebo”.
Os investigadores afirmaram:
Esses resultados indicam claramente que, embora os voluntários tenham continuado a obter progressos durante o período pré-placebo, os ganhos obtidos durante o efeito placebo foram significativamente maiores.
Aparentemente, a ingestão do placebo forneceu os benefícios psicológicos necessários para obter ganhos de força acima e para além do que seria de esperar a partir de uma progressão temporal razoável.
Trinta anos mais tarde, foi realizado outro estudo do mesmo género, também com voluntários halterofilistas (4). Todos os voluntários receberam comprimidos que supostamente deveria conter um esteroide anabolizante de ação rápida, mas que na verdade eram um placebo, e obtiveram uma performance 4% superior no treino que realizaram nesse dia.
Alguns dias mais tarde, os voluntários voltaram a realizar um treino. Nesse dia, alguns voluntários foram informados de que na verdade tinham ingerido um placebo e não um esteroide anabolizante, enquanto outro grupo continuou a ser “enganado” e a pensar que realmente estavam a ingerir um esteróide.
Aqueles voluntários que continuaram a ser “enganados” mantiveram os ganhos de força que tinham obtido no seu treino anterior. Em contrapartida, aqueles que ficaram a saber a verdade viram os seus níveis de força a diminuir até ao seu normal anterior.
Um outro estudo, que usou um protocolo praticamente idêntico ao do estudo acima, e no qual participaram um maior número de voluntários (42 indivíduos jovens), obteve resultados similares (5).
O efeito placebo também pode aumentar a capacidade de resistência ou a capacidade aeróbica.
Num estudo realizado em 2007 verificou-se que os atletas que ingeriram um placebo (uma substância inerte), mas que acreditaram que estavam a tomar um suplemento que continha uma substância ergogénica (bicarbonato de sódio), obtiveram tempos quase tão rápidos em uma corrida de 1000 metros como aqueles realmente ingeriram bicarbonato de sódio (6).
Por outro lado e curiosamente, ingerir bicarbonato de sódio sem ter conhecimento disso não proporcionou nenhum aumento significativo da performance.
Para além dos estudos que aqui referi, temos muitos outros exemplos na literatura científica que descrevem efeitos de melhoria da performance desportiva após a ingestão de um placebo (7).
Conclusão
Como pode ver, para que os suplementos funcionem, você tem que acreditar que eles realmente funcionam e a verdade é que, devido a isso, todos os suplementos podem funcionar.
Caso contrário, e se não acreditar na eficácia de um determinado suplemento, é muito provável que os resultados fiquem aquém do esperado ou que sejam inferiores ao que poderia ter obtido se tivesse criado expectativas mais elevadas.
Comentários
Enviar um comentário