Até ao momento, a restrição energética contínua, efetuada sem interrupções, tipicamente durante as várias semanas ou meses que duram o regime, representa o método tradicionalmente usado na perda de peso.
De forma simplista, neste tipo de regime, cria-se, um défice energético ao ingerir uma quantidade de calorias inferior ao dispêndio energético diário, o que “obriga” o organismo a recorrer às suas próprias reservas de energia, sobretudo ao tecido adiposo, para suportar o gasto diário.
No entanto, a adoção de uma dieta deste tipo promove um ambiente hormonal predominantemente catabólico, e ativa mecanismos corporais (termogénese adaptativa) que conduzem a uma diminuição do dispêndio energético e, desta forma, dificultam ou tornam mais lenta a perda continuada de gordura, e facilitam a recuperação do peso e gordura perdida.
Neste contexto, teorizou-se que a interrupção de uma dieta hipocalórica, durante vários dias ou semanas, ao longo dos quais se segue uma dieta normocalórica, permite normalizar e reverter a termogénese adaptativa, reverter alterações hormonais negativas, reter uma maior quantidade de massa magra, e facilitar a perda de uma maior quantidade de gordura corporal.
O que nos diz a ciência?
No seu trabalho, os investigadores Peos et al. (2021)1 pretenderam determinar se, em indivíduos com experiência de treino resistido, a restrição energética intermitente promove uma maior perda de gordura e maior retenção de massa magra em comparação com a restrição energética contínua.
Para esse propósito, recrutaram 61 voluntários com uma idade média de 28,7 anos, que realizavam pelo menos 2 sessões de exercício resistido há pelo menos 6 meses. 29 participantes eram do sexo feminino e 32 masculino.
Todos os voluntários começaram por seguir uma dieta normocalórica durante 4 semanas e todos completaram 12 semanas de restrição energética moderada com o propósito de gerar uma perda semanal de 0,7% do peso corporal.
- Um grupo completou as 12 semanas de dieta hipocalórica sem interrupções (dieta contínua).
- Outro grupo completou 4 blocos de 3 semanas de dieta hipocalórica intercalados com 3 blocos de 1 semana de dieta normocalórica, num total de 15 semanas (dieta intermitente).
A dieta foi constituída por 2,3 g de proteína por kg de peso, 20% foi derivada de lípidos, e os hidratos de carbono forneceram a energia restante.
O peso foi medido em laboratório numa balança digital e a composição corporal foi analisada com recurso a um equipamento DXA (Absorciometria bifotónica de raio X).
Durante as visitas ao laboratório os investigadores também avaliaram a força e endurance muscular dos voluntários.
Resultados
Comparando os dois grupos, os investigadores não registaram diferenças estatisticamente significativas nas seguintes variáveis:
- Peso corporal
- Massa gorda
- Massa magra
- Força muscular
- Endurance muscular
- Dispêndio energético em repouso
- Leptina
- Testosterona
- Fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1
- Grelina ativa
- Triiodotironina livre
- Sono
- Dismorfia muscular
- Comportamentos de transtorno alimentar
No entanto, comparativamente ao grupo da dieta contínua, o grupo que seguiu a dieta intermitente apresentou:
- Menos fome
- Menor vontade de comer
- Maior satisfação com as refeições
- Níveis mais elevados de peptídeo YY (hormona que promove a saciedade)
Enquanto o grupo da dieta intermitente não apresentou alterações nesses aspetos, comparativamente aos valores iniciais, prévios ao início do estudo, após 6 e/ou 12 semanas, o grupo da dieta contínua registou:
- Aumento da fome
- Aumento do desejo de comer
- Aumento da irritabilidade
- Aumento de náuseas
- Diminuição da satisfação com as refeições
- Diminuição da saciedade com as refeições
- Diminuição do estado de alerta
De referir ainda que, embora as diferenças não sejam estatisticamente significativas, o grupo da dieta hipocalórica intermitente registou uma menor taxa de abandono do estudo ((13.3%) comparativamente ao grupo da dieta contínua (25,8%).
Estes investigadores escreveram:
Tanto a dieta hipoenergética intermitente como a contínua são opções viáveis para perda de peso em indivíduos que executam treino resistido. Embora registando perdas similares de massa gorda e massa magra após 12 semanas de restrição energética, a dieta hipoenergética intermitente foi acompanhada por uma menor vontade de comer.
Conclusão
Este estudo teve a particularidade de incluir voluntários com experiência de treino resistido e que continuaram a executar esse tipo de exercício ao longo do projeto de investigação, o que o torna especialmente relevante para os praticantes de musculação.
Os resultados deste trabalho sugerem que, comparativamente a uma dieta de restrição energética contínua, a adoção de uma dieta hipoenergética intermitente não produz maior perda de peso, de gordura corporal, maior retenção de massa magra, nem permite manter um melhor perfil hormonal.
Atendendo a estes resultados, e especialmente num contexto onde o indivíduo está sujeito a pressões em termos de prazos para “emagrecer”, fará mais sentido adotar uma dieta hipocalórica contínua, sem interrupções, de modo a se obter os resultados pretendidos no menor período possível.
No entanto, uma dieta hipoenergética intermitente poderá ser mais fácil de tolerar, tal como evidenciado pela menor taxa de desistência, e também por este grupo ter sentido menos fome, menor vontade de comer, e maior satisfação com as refeições.
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