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Qual é o melhor adoçante não calórico?

O consumo de edulcorantes artificiais, pouco calóricos ou sem calorias é cada vez mais comum, estando presente numa variedade cada vez maior de alimentos e bebidas “light”.

A ingestão desse tipo de adoçantes, isentos de calorias pode realmente ajudar a melhorar o controlo do apetite e promover a perda de peso. Isso ficou comprovado em vários estudos controlados (1-3).

Após se ter realizado um grande número de estudos, foi determinado que o seu consumo moderado é seguro para a população em geral. Ainda assim, os edulcorantes artificiais podem exercer uma influência negativa em alguns aspetos da saúde (4).

Alguns estudos mais recentes sugerem que os edulcorantes devem ser evitados por provocarem alterações negativas ao nível da flora intestinal (disbiose), que por sua vez pode conduzir a alterações negativas no metabolismo.

Num estudo publicado em 2014 foram testados três edulcorantes artificiais não calóricos: a sacarina, sucrolase e o aspartamo (5). A sacarina foi o edulcorante que teve um impacto mais negativo na flora intestinal e o que mais reduziu a tolerância à glicose, seguido pela sucrolase e pelo aspartamo, cujo impacto negativo foi quase negligenciável.

Alguma literatura científica também sugere a existência de uma correlação positiva entre a ingestão de edulcorantes e o aumento da intolerância à glicose e aumento do peso corporal (6).

Para além disso, esses três edulcorantes artificiais (aspartamo, sacarina e sucralose) também poderão ter um efeito negativo ao nível do sistema imunológico (7).

De acordo com estes estudos, poderíamos ser levados a pensar que não existem alternativas e que, se quisermos manter uma flora intestinal saudável teremos obrigatoriamente que deixar de lado todo os tipos de edulcorantes.

Mas será que todos os edulcorantes exercem esses efeitos negativos na saúde? Será que podemos usar algum edulcorante não calórico para adoçar as nossas refeições sem que isso nos aumente o nível de intolerência à glicose e o risco de sofrer de excesso de peso?

De facto, existem vários outros tipos de edulcorantes para além da sacarina, sucralose, aspartamo, e há pelo menos um cuja ingestão pode ser considerada segura para a saúde, o Stevia.

Stevia

O stevia (Stevia rebaudiana) é derivado de uma planta nativa da América do Sul cujas folhas têm vindo a ser usadas desde há vários séculos pelas populações nativas para adoçar as suas bebidas e preparações medicinais locais (8).

Este adoçante de origem natural tem vindo a ser investigado ao longo das últimas décadas e ficou comprovado que a sua ingestão pode proporcionar vários efeitos benefícios para a saúde, incluindo efeitos:

  • Anti hiperglicémico: Verificou-se que a ingestão de stevia aumenta a tolerância à glicose e a sensilidade à insulina. Também reduz os níveis de glicose e de insulina após uma refeição (9-11).
  • Apetite: Mesmo ingerindo um número mais reduzido de Kcal ao longo do dia, a ingestão de Stevia permite manter um nível de apetite e de saciedade idêntico ao de uma dieta habitualmente mais rica em Kcal, sendo o seu efeito idêntico ao do aspartamo nesse aspeto (9).
  • Antidiarreico: A diarreia é provocada principalmente por bactérias e vírus. O stevia contém esteviosídeo, que tem um efeito anti-bacteriano, anti-viral e tem um efeito inibidor das contrações musculares do intestino. Por isso também alivia a síndrome do intestino irritável e a doença inflamatória intestinal (12).
  • Antioxidante, anti-inflamatório e anti-cancerígeno: O Stevia tem potentes propriedades antioxidantes. O esteviosídeo e o esteviol, compostos presentes no Stevia, têm um efeito anti-inflamatório nas células epiteliais do cólon. O extrato de stevia também tem propriedades anti-cancerígenas, podendo inibir a formação de vários tipos de tumores (13-15).
  • Antihipertensivo: Alguns estudos sugerem que o stevia pode baixar a tensão arterial em doentes hipertensos. Verificou-se que isso se deve em parte às suas propriedades vasodilatadoras e diuréticas (15, 16).
  • Imunoprotectores: A ingestão oral de stevia pode aumentar a imunidade contra infeções por microorganismos (15).
  • Anticáries: O extrato de stevia tem um efeito inibidor contra os micróbios S. mutans e Lactobacillus, que provocam cáries dentárias (8).

E em relação à flora intestinal?

Um estudo realizado em 2003 comprovou que a ingestão de stevia (esteviosídio e rebausioside A) não exerce uma influência significativa na composição das culturas presentes nas fezes (17).

No entanto, um estudo mais recente, realizado in vitro indica que pode ter um efeito ligeiramente inibidor de algumas estirpes de Lactobacillus reuteri (18), que também está presente em alguns tipos de iogurte (19, 20).

Então o Stevia não prejudica a saúde?

O Stevia é considerado um adoçante seguro e a maioria dos estudos indica que a ingestão de 5 mg de esteviosídeo por Kg de peso corporal é segura e não aumenta o risco de problemas renais, hepáticos, de cancro, alterações nos níveis de eletrólitos no sangue, nem defeitos de crescimento em fetos/crianças (12, 15).

O esteviosídeo é o composto mais abundante do Stevia e calculou-se que o seu poder adoçante é aproximadamente 250-300 vezes mais intenso do que a sacarose (15). Tendo isso em conta, é pouco provável que necessite de adicionar uma quantidade excessiva de stevia para adoçar as suas bebidas ou refeições sólidas.

➤ Mostrar/Ocultar Referências!
  1. Maersk M, Belza A, Stodkilde-Jorgensen H, Ringgaard S, Chabanova E, Thomsen H, et al. Sucrose-sweetened beverages increase fat storage in the liver, muscle, and visceral fat depot: a 6-mo randomized intervention study. The American journal of clinical nutrition. 2012; 95(2):283-9.
  2. Raben A, Vasilaras TH, Moller AC, Astrup A. Sucrose compared with artificial sweeteners: different effects on ad libitum food intake and body weight after 10 wk of supplementation in overweight subjects. The American journal of clinical nutrition. 2002; 76(4):721-9.
  3. Tordoff MG, Alleva AM. Effect of drinking soda sweetened with aspartame or high-fructose corn syrup on food intake and body weight. The American journal of clinical nutrition. 1990; 51(6):963-9.
  4. Qurrat ul A, Khan SA. Artificial sweeteners: safe or unsafe? JPMA The Journal of the Pakistan Medical Association. 2015; 65(2):225-7.
  5. Suez J, Korem T, Zeevi D, Zilberman-Schapira G, Thaiss CA, Maza O, et al. Artificial sweeteners induce glucose intolerance by altering the gut microbiota. Nature. 2014; 514(7521):181-6.
  6. Bokulich NA, Blaser MJ. A bitter aftertaste: unintended effects of artificial sweeteners on the gut microbiome. Cell metabolism. 2014; 20(5):701-03.
  7. Rahiman F, Pool EJ. The in vitro effects of artificial and natural sweeteners on the immune system using whole blood culture assays. Journal of immunoassay & immunochemistry. 2014; 35(1):26-36.
  8. Ajagannanavar SL, Shamarao S, Battur H, Tikare S, Al-Kheraif AA, Al Sayed MSAE. Effect of aqueous and alcoholic Stevia (Stevia rebaudiana) extracts against Streptococcus mutans and Lactobacillus acidophilus in comparison to chlorhexidine: An in vitro study. Journal of International Society of Preventive & Community Dentistry. 2014; 4(Suppl 2):S116-S21.
  9. Anton SD, Martin CK, Han H, Coulon S, Cefalu WT, Geiselman P, et al. Effects of stevia, aspartame, and sucrose on food intake, satiety, and postprandial glucose and insulin levels. Appetite. 2010; 55(1):37-43.
  10. Chang JC, Wu MC, Liu IM, Cheng JT. Increase of insulin sensitivity by stevioside in fructose-rich chow-fed rats. Hormone and metabolic research = Hormon- und Stoffwechselforschung = Hormones et metabolisme. 2005; 37(10):610-6.
  11. Gregersen S, Jeppesen PB, Holst JJ, Hermansen K. Antihyperglycemic effects of stevioside in type 2 diabetic subjects. Metabolism: clinical and experimental. 2004; 53(1):73-6.
  12. Yadav SK, Guleria P. Steviol glycosides from Stevia: biosynthesis pathway review and their application in foods and medicine. Critical reviews in food science and nutrition. 2012; 52(11):988-98.
  13. Bender C, Graziano S, Zimmermann BF. Study of Stevia rebaudiana Bertoni antioxidant activities and cellular properties. International journal of food sciences and nutrition. 2015; 66(5):553-8.
  14. Periche A, Koutsidis G, Escriche I. Composition of antioxidants and amino acids in Stevia leaf infusions. Plant foods for human nutrition (Dordrecht, Netherlands). 2014; 69(1):1-7.
  15. Chatsudthipong V, Muanprasat C. Stevioside and related compounds: Therapeutic benefits beyond sweetness. Pharmacology & Therapeutics. 2009; 121(1):41-54.
  16. Ulbricht C, Isaac R, Milkin T, Poole EA, Rusie E, Grimes Serrano JM, et al. An evidence-based systematic review of stevia by the Natural Standard Research Collaboration. Cardiovascular & hematological agents in medicinal chemistry. 2010; 8(2):113-27.
  17. Gardana C, Simonetti P, Canzi E, Zanchi R, Pietta P. Metabolism of stevioside and rebaudioside A from Stevia rebaudiana extracts by human microflora. Journal of agricultural and food chemistry. 2003; 51(22):6618-22.
  18. Denina I, Semjonovs P, Fomina A, Treimane R, Linde R. The influence of stevia glycosides on the growth of Lactobacillus reuteri strains. Letters in applied microbiology. 2014; 58(3):278-84.
  19. Gu Q, Zhang C, Song D, Li P, Zhu X. Enhancing vitamin B12 content in soy-yogurt by Lactobacillus reuteri. International journal of food microbiology. 2015; 206:56-9.
  20. Anukam KC, Osazuwa EO, Osadolor HB, Bruce AW, Reid G. Yogurt containing probiotic Lactobacillus rhamnosus GR-1 and L. reuteri RC-14 helps resolve moderate diarrhea and increases CD4 count in HIV/AIDS patients. Journal of clinical gastroenterology. 2008; 42(3):239-43.

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