O mercado dos suplementos de proteína está em franco crescimento. Parte da explicação para este fenómeno reside no aumento da popularidade das dietas vegetarianas, onde parte dos seus adeptos complementam a sua dieta com suplementos proteicos de origem vegetal.
Tal como acontece com os produtos alimentares, também o mercado dos suplementos é afetado pela adulteração propositada, com vista à maximização das margens de lucro.
De facto, a indústria dos suplementos alimentares, de modo geral, não é particularmente conhecida por transmitir uma imagem de segurança e fiabilidade.
O que é o Protein Spiking?
O protein ou amino spiking, refere-se à substituição de uma determinada proteína, por exemplo, proteína whey, por aminoácidos mais baratos como a glicina, taurina, glutamina e creatina, ou por outras proteínas de custo e de qualidade inferior.
Ao diminuir o custo de produção do produto final, esta prática possibilita a diminuição do custo de produção e, consequentemente, maior ganho económico. Por outras palavras, permite “vender gato por lebre”.
Esta prática é difícil de detetar porque os métodos habitualmente usados para determinar a qualidade de um alimento ou suplemento que contenha proteína (Kjeldahl e Dumas), apenas determinam o teor de nitrogénio, um químico presente em todos os aminoácidos, e só permitem estimar a quantidade de proteína, e não a sua qualidade ou proveniência.
O que dizem os estudos?
Num estudo conduzido no Brasil, um grupo de investigadores analisou 16 suplementos de proteína whey à venda no mercado brasileiro e, em 6 amostras (suplementos), detetaram concentrações de proteína whey inferiores às declaradas no rótulo e concentrações elevadas ou adulteração com aminoácidos ou outras fontes de proteína, inclusive proteína de frango, soja, trigo e arroz.
Para chegar a estes resultados, os autores deste trabalho aplicaram um método laboratorial mais sofisticado, a análise proteómica, que permite identificar proteínas específicas.
Noutro estudo, conduzido mais recentemente, um grupo de investigadores analisou 33 suplementos de proteína de origem vegetal, através de três métodos: PCR, NGS e LC-MS/MS.
Trata-se de suplementos que se encontravam à venda em lojas físicas e online, no mercado norte-americano e canadense.
Estes investigadores detetaram adulterantes específicos em 9 dos 33 suplementos, através de mais de um método, e identificaram possível adulteração de 25 suplementos através do método LC-MS/MS.
Entre o conjunto de potenciais adulterantes usados para aumentar o teor de proteína de suplementos foram identificadas a proteína de milho, trigo, fava, grão-de-bico, guar e alfafa.
Conclusão
A literatura científica existente sugere que a indústria dos suplementos de proteína é bastante permeável à adulteração, ou fraude económica, e que frequentemente não providencia ao consumidor aquilo por que pagou.
Este é um tema que merece ser mais investigado, até pela questão da segurança. Os indivíduos que sofrem de alergia alimentar estão em risco de sofrer problemas sérios de saúde ao adquirirem um produto contrafeito que contenha alergénios não declarados no rótulo.
O consumidor tem o direito de receber um produto de qualidade, autêntico e seguro, cuja composição nutricional esteja conforme a informação expressa no rótulo.
➤ Mostrar/Ocultar Referências!
Garrido BC, Souza GHMF, Lourenço DC, Fasciotti M. Proteomics in quality control: Whey protein-based supplements. J Proteomics. 2016 Sep 16;147:48-55. doi: 10.1016/j.jprot.2016.03.044. Epub 2016 Apr 9. PMID: 27072112.
Faller AC, Arunachalam T, Shanmughanandhan D, et al. Investigating appropriate molecular and chemical methods for ingredient identity testing of plant-based protein powder dietary supplements. Sci Rep. 2019;9(1):12130. Published 2019 Aug 20. doi:10.1038/s41598-019-48467-9
Comentários
Enviar um comentário