Se tem prestado atenção ao jornalismo científico e vários artigos publicados em blogs relacionados com a saúde e nutrição, então é provável que já tenha lido que os suplementos antioxidantes podem ter efeitos negativos que vão desde o impedimento das adaptações ao treino em resposta ao exercício, até à hipoglicemia extrema e até mesmo cancro.
No melhor dos casos, esses artigos afirmam que os antioxidantes são simplesmente inúteis e totalmente ineficientes.
E então será mesmo essa a verdade? Os antioxidantes são prejudiciais? Ou será que são eficientes?
Os antioxidantes eliminam os efeitos benéficos do exercício?
Os antioxidantes podem por vezes reduzir esses efeitos, por vezes podem potenciá-los e podem ainda ter um efeito neutro. Isso depende de vários fatores.
- Depende dos seus níveis oxidativos: A administração de suplementos antioxidantes a doentes cardíacos que seguem um regime de exercício, não reduz os benefícios do exercício (1). Os doentes cardíacos normalmente têm níveis elevados de stress oxidativo (2).
- Depende da sua idade: Nos indivíduos mais idosos, a toma de um suplemento de chá verde e de vitamina E potencia os efeitos do exercício (3). Estes suplementos melhoram a composição corporal, a tolerância à glucose e diminuem o stress oxidativo a um maior grau após a suplementação com antioxidantes, provavelmente porque as pessoas com mais idade são mais susceptíveis ao stress oxidativo induzido pelo exercício (4).
- Depende da sua composição corporal: Um desses estudos mais recentes que afirma que os antioxidantes anulam os efeitos o exercício, sugere também que os indivíduos obesos perdem uma maior quantidade de gordura quando se suplementam com antioxidantes e praticam exercício (5).
- Depende da natureza do exercício: Quanto mais antioxidantes tomar, maior irá ser a sua tolerância para realizar exercício de alta intensidade. Irá provavelmente necessitar de uma maior intensidade. Talvez seja por esse motivo que a administração de antioxidantes às pessoas que realizam treino intervalado de alta intensidade não reduz os benefícios deste tipo de treino (6).
Os antioxidantes provocam hipoglicemia?
Escolha um antioxidante, um qualquer, e irá encontrar pessoas online que se queixam que o mesmo provoca a descida dos níveis de açúcar no sangue. Como pode isso acontecer se os antioxidantes são “bons para a saúde”?
Muitos (e talvez a maioria deles) antioxidantes são agentes que aumentam a sensibilidade à insulina. Eles potenciam os efeitos da insulina, sendo que o principal é a remoção da glucose do sangue, de forma que irá necessitar de uma quantidade mais reduzida de insulina para remover a mesma quantidade de glucose.
Ou colocando as coisas de outra forma, a mesma quantidade de insulina remove uma quantidade ainda maior de glucose. Se você já está definido, se já é perfeitamente sensível á insulina e se tem os níveis ótimos de glucose no sangue, então o consumo de um agente que aumenta a sensibilidade à insulina pode-se tornar uma coisa má. Pode fazê-lo ficar hipoglicémico.
Mas e se você não for saudável? Se você sofrer de diabetes tipo 2. Se for completamente sedentário. Se você for obesos e resistente à insulina. Se você for hiperglicémico, uma maior sensibilidade à insulina irá melhorar a saúde. Como sempre, o contexto é importante.
É por esse motivo que o mesmo ácido alfa lipóico que pode causar hipoglicemia também demonstrou impedir a progressão da intolerância à glucose para diabetes do tipo 2 (7), e demonstrou melhorar a sensibilidade à insulina em diabéticos do tipo 2 (8).
É também por esse mesmo motivo que a curcumina que pode provocar níveis baixos de glucose no sangue em pessoas saudáveis, pode reduzir a incidência de diagnósticos de diabetes tipo 2 nos indivíduos em risco (9). Por outras palavras, esses compostos ajudam as pessoas que precisam de ajuda.
Os antioxidantes promovem o cancro?
Os suplementos antioxidantes podem ser benéficos ou prejudiciais, dependendo das características da pessoa que os toma.[/caption]Os suplementos antioxidantes podem ser benéficos ou prejudiciais, dependendo das caraterísticas da pessoa que os toma.
Um cabeçalho como “Os antioxidantes aumentam o risco de cancro”, implica que os suplementos estão a aumentar a incidência de cancro na população.
Analisando o estudo em que se baseia o cabeçalho, verifica-se que a Vitamina E e NAC “só” aceleram o crescimento de tumores em ratos com tumores pré-existentes e estimulam a formação de novos tumores.
Isso é compreensível uma vez que os pacientes que sofrem de cancro que são sujeitos a tratamentos de radioterapia, são aconselhados a cessar a toma de qualquer suplementação com antioxidantes.
Entretanto, outras evidências sugerem que o NAC (N-acetilcisteína) é quimiopreventiva (inibe o cancro no início) (10), especialmente quando combinado com outros antioxidantes como o extrato de chá verde (11). Também é seguro afirmar que a vitamina E usada neste estudo foi o alfa tocoferol, enquanto a vitamina E de maior espectro e que inclui tocotrienols tendem a diminuir a progressão do cancro (12).
Certos antioxidantes podem muito bem promover a progressão de (alguns) cancros existentes, mas isso não é o mesmo que aumentar a incidência de cancro.
Porque motivo tantos estudos mostram que os antioxidantes não funcionam?
Eles estão a estudar as populações erradas. As pessoas saudáveis não são iguais às pessoas doentes. Elas respondem de forma diferente à medicação, alimentos, regimes de exercício, e sim, antioxidantes.
Por exemplo, os extratos de polifenol de uva não melhoram o funcionamento cardiovascular de homens saudáveis (13). Mas nos homens que sofrem de síndrome metabólica, estes diminuem a tensão arterial e aumentam a dilatação mediada por fluxo (14). Também foram observadas diferenças similares com o resveratrol (15).
E apesar disso, por vezes os antioxidantes funcionam, mesmo em populações geralmente saudáveis; um complexo de quercetina, curcumina, catequinas e selénio melhorou vários marcadores de doenças cardiovasculares após dois meses (16).
Consegue notar aqui uma tendência? Geralmente os suplementos de antioxidantes são benéficos para as pessoas doentes com níveis elevados de stress oxidativo e inflamação sistémica, enquanto podem ser inúteis para pessoas que já são saudáveis e que têm níveis reduzidos de stress oxidativo e inflamação sistémica. Infelizmente a maioria das pessoas estão na segunda categoria.
Conclusão
Por exemplo, um indivíduo obeso poderá obter benefícios com a toma regular de antioxidantes. Um atleta extremamente ativo, que realiza treinos intensos quase todos os dias, iria provavelmente obter benefícios com o seu uso mais ou menos regular.
Para um indivíduo com problemas cardiovasculares poderia ser boa ideia suplementar-se com antioxidantes. E imagino que uma pessoa que passa 15 horas por dia num trabalho stressante também poderia provavelmente beneficiar com a suplementação com antioxidantes.
Estas são as pessoas que estão inflamadas, que estão sujeitas a níveis elevados de stress oxidativo e poderiam obter alguns benefícios com o consumo de antioxidantes.
Mas se você está a alimentar-se bem, a exercitar-se com inteligência, a dormir o necessário e não sofre de doenças, então não “precisa” de tomar um suplemento de antioxidantes.
Está a ver como a coisa funciona? Na verdade este tema pode ser bastante confuso e não existem respostas fáceis, apenas escolhas por vezes difíceis, que nós temos que tomar de acordo com a situação pessoal de cada um.
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