De modo geral, as recomendações nutricionais emitidas por organizações e saúde, e também por nutricionistas, incluem a ingestão de uma variedade de alimentos integrais ou minimamente processados,¹ em detrimento de suplementos alimentares.
Essas recomendações fazem sentido uma vez que os alimentos integrais contêm uma série de nutrimentos e outros compostos potencialmente necessários ou benéficos para a saúde, que poderão não estar presentes em suplementos.²⁻⁴
No entanto, os suplementos alimentares podem apresentar vantagens, incluindo um consumo mais prático de determinados nutrientes, e podem ser úteis em determinados contextos, incluindo os suplementos inseridos numa categoria denominada “Substitutos de Refeições”.
Mais especificamente, e assumindo que a gestão das porções consumidas é um dos aspetos fundamentais para o atingimento do sucesso na perda de peso,⁵ é possível que as dietas à base de doses padronizadas de substitutos de refeições possam auxiliar na perda de peso.
Esta categoria de suplementos incluiu alimentos pré-embalados, barras energéticas, preparados em pó para diluir em líquidos, e preparações líquidas prontas-a-beber, tipicamente fortificadas com vitaminas, minerais e fibras.⁶
No que respeita à evidência científica, já foram publicadas pelo menos cinco meta-análises que procuraram determinar se os substitutos de refeições efetivamente ajudam na perda de peso, e todas reportaram
Min et al. (2020)
Em 2020 os investigadores Min e colegas⁶ conduziram uma revisão sistemática e meta-análise com o propósito de determinar se: 1) a restrição energética com substitutos de refeições é mais eficiente para perda de peso; e 2) se o aumento da ingestão de energia diária derivada de substitutos de refeições produz uma maior perda de peso.
Para esse efeito, na sua análise englobaram 22 estudos randomizados controlados, os quais incluíram um total de 1982 voluntários com idades entre 18 e os 65 anos, com excesso de peso ou obesos, mas sem outras doenças relevantes conhecidas.
Estes estudos compararam dietas à base de alimentos baixa em energia (1000 a 1500 kcal/dia), ou muito baixas em energia (600 a 800 kcal/dia), com dietas baixas em energia à base de substitutos de refeições baixas em energia.
Em termos de resultados, verificou-se que a dieta à base de substitutos de refeições resultou em maior perda de peso (pequeno efeito) comparativamente à dieta baseada em alimento baixa em energia.
Este efeito foi mais expressivo quando os substitutos de refeições:
- Forneceram ≥ 60% da energia total da dieta.
- Substituíram 3 refeições por dia em vez de 2 ou menos.
- Foram implementados durante ≥ 3 meses e menos de 6 meses.
Estes investigadores concluíram:
O efeito de uma dieta à base de substitutos de refeições e baixa em energia foi superior ao efeito de uma dieta baixa em energia baseada em alimentos convencionais.
Estas descobertas sugerem que, para uma perda de peso ótima, pelo menos 30%, e preferencialmente entre 30% a 60% da ingestão energética total deveria provir de substitutos de refeição.
Outros estudos
Anteriormente à publicação do trabalho de Min et al. (2020), já haviam sido conduzidas pelo menos quatro outras meta-análises que também procuraram determinar o grau de eficácia dos substitutos de refeições na perda de peso:
➤ Heymsfield et al. (2002)⁷ conduziram uma meta-análise que incluiu 6 estudos controlados, com duração de ≥ 3 meses, e que incluíram substitutos de refeições líquidos numa dieta de restrição energética em uma ou mais refeições.
Em termos de resultados, verificaram que a dieta com substitutos de refeições produziu uma maior perda de peso, mais precisamente uma média de 2,54 kg adicionais após 3 meses, e de menos 2,53 kg depois de 1 ano, comparativamente a uma dieta de restrição energética convencional,
➤ A meta-análise conduzida por Marion et al. (2007)⁸ incluiu 7 estudos que comparam dietas contendo substitutos de refeições com dietas contendo apenas alimentos. Neste caso, os participantes tinham excesso de peso ou sofriam de obesidade.
Neste caso, e em comparação com dietas com apenas alimentos, os grupos que seguram dietas com substitutos de refeições registaram uma perda adicional média de 4,0 kg aos 6 meses, e de 3,8 kg após 12 meses.
➤ Leslie et al. (2017)⁹ conduziram uma meta-análise com vista a avaliar o grau de eficácia, de dietas baixas e muito baixas em energia contendo exclusivamente substitutos de refeições, na perda de peso.
Este trabalho de revisão inclui 5 estudos, nos quais participaram apenas adultos com excesso de peso ou obesos. O valor energético das dietas variou entre as 300 e 1000 kcal/dia, e a duração de aplicação das dietas variou entre as 4 e 52 semanas.
Em termos de resultados, registaram-se perdas totais médias de 8,9 a 15 kg de peso em indivíduos com diabetes tipo II, e de 7,9 a 21 kg naqueles sem diabetes.
➤ Astbury et al. (2019)¹⁰ conduziram uma revisão sistemática e meta-análise com o propósito de avaliar o efeito de intervenções para perda de peso que incorporam substitutos de refeição comparativamente a intervenções alternativas.
Este trabalho incluiu 23 estudos, os quais incluíram um total de 7884 voluntários com idades compreendidas entre os e um IMC ≥ 25 kg/m².
Ao final de um ano, em comparação com uma dieta contendo apenas alimentos, os grupos que incluíram substitutos de refeições no seu regime alimentar perderam em média mais 1,44 kg.
Curiosamente, os grupos que receberam substitutos de refeições em simultâneo com suporte por parte de profissionais de saúde, perderam uma média de 2,22 kg adicionais comparativamente aos grupos que apenas ingeriram alimentos e suporte.
Conclusão
De acordo com a evidência apresentada neste artigo, a inclusão de suplementos substitutos de refeições num plano alimentar não só representa uma estratégia viável na perda de peso, como pode até ser mais eficiente do que uma dieta de restrição energética que inclua apenas alimentos.
No entanto, há que ter em conta que a adesão a uma dieta que inclua substitutos de refeições parece diminuir quando prolongada até 6 ou mais meses, devido à possibilidade desta se tornar monótona.6
Aparentemente, será preferível que o uso de substitutos de refeições para perda de peso seja temporário, não ultrapassando esse período, ou que o seu consumo seja intercalado com intervalos de tempo onde se se segue uma dieta contendo apenas alimentos.
De notar que, em princípio, uma dieta para perda de peso não deve conter apenas substitutos de refeições, e deverá incluir uma variedade de alimentos, preferencialmente integrais ou minimamente processados.
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3. Liu RH. Potential synergy of phytochemicals in cancer prevention: mechanism of action. J Nutr. Dec 2004;134(12 Suppl):3479s-3485s. doi:10.1093/jn/134.12.3479S
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6. Min J, Kim SY, Shin IS, Park YB, Lim YW. The Effect of Meal Replacement on Weight Loss According to Calorie-Restriction Type and Proportion of Energy Intake: A Systematic Review and Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials. J Acad Nutr Diet. Aug 2021;121(8):1551-1564.e3. doi:10.1016/j.jand.2021.05.001
7. Heymsfield SB, van Mierlo CAJ, van der Knaap HCM, Heo M, Frier HI. Weight management using a meal replacement strategy: meta and pooling analysis from six studies. International Journal of Obesity. 2003/05/01 2003;27(5):537-549. doi:10.1038/sj.ijo.0802258
8. Franz MJ, VanWormer JJ, Crain AL, et al. Weight-Loss Outcomes: A Systematic Review and Meta-Analysis of Weight-Loss Clinical Trials with a Minimum 1-Year Follow-Up. Journal of the American Dietetic Association. 2007/10/01/ 2007;107(10):1755-1767. doi:https://doi.org/10.1016/j.jada.2007.07.017
9. Leslie WS, Taylor R, Harris L, Lean MEJ. Weight losses with low-energy formula diets in obese patients with and without type 2 diabetes: systematic review and meta-analysis. International Journal of Obesity. 2017/01/01 2017;41(1):96-101. doi:10.1038/ijo.2016.175
10. Astbury NM, Piernas C, Hartmann-Boyce J, Lapworth S, Aveyard P, Jebb SA. A systematic review and meta-analysis of the effectiveness of meal replacements for weight loss. Obesity Reviews. 2019/04/01 2019;20(4):569-587. doi:https://doi.org/10.1111/obr.12816
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