Avançar para o conteúdo principal

Os perigos da ingestão excessiva de sal

Apesar do sódio ser um nutriente essencial para o ser humano, o seu consumo é notoriamente excessivo em vários países, incluindo Portugal.

A Organização Mundial de Saúde recomenda a ingestão de menos de 2 gramas de sódio, ou 5 gramas de sal por dia, mas verificou-se que os portugueses ingerem, em média mais do dobro dessa quantidade (1, 2).

Na verdade, verificou-se que Portugal é um dos países com maior prevalência de hipertensão e de mortalidade cerebrovascular, o que parece estar associado ao consumo excessivo de sal (3).

Ficou ainda comprovado que a ingestão excessiva de sal está associada a um aumento do risco de um número significativo de problemas de saúde (4-14), incluindo:

  • Tensão arterial elevada
  • Doenças cardiovasculares, incluindo ataques cardíacos e acidente vascular cerebral.
  • Problemas renais, incluindo diminuição do funcionamento renal.
  • Cálculos renais (pedras nos rins).
  • Osteoporose
  • Fraturas ósseas (em mulheres pós-menopáusicas).
  • Esclerose múltipla.
  • Doenças auto-imunes.
  • Obesidade
  • Cancro do estômago.
  • Asma relacionada com o exercício.

Poderá ainda ter efeitos negativos em vários órgãos, que podem ser independentes do aumento da pressão arterial (15):

  • Cérebro: aumento da sensibilidade dos neurónios simpáticos.
  • Rins: aumento da excreção de proteína e, diminuição do ritmo de filtração glomerular.
  • Coração: hipertrofia do ventrículo esquerdo.
  • Vasos sanguíneos: disfunção endotelial e aumento da rigidez arterial.

A importância de moderar o consumo de sal

Em vários estudos observou-se uma diminuição significativa da pressão arterial após uma redução modesta do consumo de sal (16, 17).

Na Finlândia, ao longo dos últimos 30 anos, conseguiu-se obter a uma redução média de 30-35% do consumo de sal, que foi acompanhada por uma redução da pressão arterial da população e ainda uma diminuição de 75% a 80% do risco de morte devido a doenças coronárias e acidente vascular cerebral (AVC). Ao mesmo tempo a esperança média de vida dos finlandeses aumentou em 6-7 anos (10).

São as refeições pré-preparadas, as carnes processadas, o pão e os queijos que contêm quantidades mais elevadas de sal (18), mas a verdade é que vários medicamentos também contêm quantidades excessivas deste mineral especialmente os medicamentos, solúveis e dispersáveis (19).

Verificou-se que os pacientes que ingerem medicamentos que continham sódio tinham um risco 16% mais elevado de sofrer ataques cardíacos, AVC e/ou morte devido a complicações cardiovasculares. Para além disso, também tinham uma probabilidade 7 vezes mais elevada de desenvolver pressão arterial elevada, bem como um aumento de 28% do nº de mortes, em comparação com os pacientes que ingeriram versões sem sódio desses mesmos medicamentos.

A importância do potássio e outros minerais

De forma a reduzir o risco de doenças cardiovasculares, para além de reduzir a ingestão de sódio também é importante ingerir a quantidade adequada de potássio (20). As principais fontes dietéticas de potássio são as frutas e as hortícolas (21). Nesse sentido, a WHO recomenda a ingestão de um mínimo de 3510 mg de potássio por dia (1).

O aumento da ingestão de potássio proporciona vários benéficos, que são ainda maiores quando acompanhados por uma redução do consumo de sal. Isso também explica, em parte, o efeito positivo que a ingestão de frutas e vegetais, naturalmente ricos em potássio, tem na saúde cardiovascular.

O aumento da ingestão de potássio (20-22):

  • Diminui a pressão arterial.
  • Diminui o risco de pedras nos rins.
  • Previne o desenvolvimento de doenças renais.
  • Reduz o risco de acidente vascular cerebral.
  • Reduz a excreção de cálcio, a desmineralização óssea.
  • Pode reduzir a intolerância aos hidratos de carbono.

Por outro lado, a ingestão insuficiente de potássio aumenta o risco de arritmias ventriculares fatais em pessoas em risco, ou seja, em pacientes com doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca ou hipertrofia ventricular esquerda (22).

Para além do potássio, também é importante ingerir quantidades adequadas de cálcio e de magnésio, pois estes minerais também proporcionam uma redução da pressão arterial, atuando principalmente através do aumento da excreção do excesso de sódio (10).

Como reduzir o consumo de sal

Verificou-se que é possível reduzir em até 40% a adição de sal a sopas e arroz sem que isso afete o paladar e o prazer hedónico dessas refeições (2).

Podem ainda ser utilizadas várias estratégias para reduzir a adição de sal, incluindo a utilização de glutamato monossódico (sabor umami) (23), ervas, especiarias, mostarda, vinagre e frutas cítricas como o limão (24).

No sentido de informar e de auxiliar a população a selecionar as ervas aromáticas mais adequadas, a Direção Geral de Saúde elaborou um documento com informação útil acerca deste tema.

Por último, vale a pena referir que as especiarias e ervas aromáticas têm propriedades bioactivas interessantes que contribuem para melhorar a saúde e aumentar a ingestão diária de vitaminas, minerais e antioxidantes (25, 26).

➤ Mostrar/Ocultar Referências!
  1. Drewnowski A, Rehm CD, Maillot M, Mendoza A, Monsivais P. The feasibility of meeting the WHO guidelines for sodium and potassium: a cross-national comparison study. BMJ Open. 2015; 5(3)
  2. José ASdA. Estratégia de normalização e redução do teor de sal adicionado-Segmento restauração coletiva. Catálogo da FCNAUP. 2013
  3. Polonia J, Maldonado J, Ramos R, Bertoquini S, Duro M, Almeida C, et al. Estimation of salt intake by urinary sodium excretion in a Portuguese adult population and its relationship to arterial stiffness. Revista portuguesa de cardiologia : orgao oficial da Sociedade Portuguesa de Cardiologia = Portuguese journal of cardiology : an official journal of the Portuguese Society of Cardiology. 2006; 25(9):801-17.
  4. Meneton P, Jeunemaitre X, de Wardener HE, MacGregor GA. Links between dietary salt intake, renal salt handling, blood pressure, and cardiovascular diseases. Physiological reviews. 2005; 85(2):679-715.
  5. O'Donnell M, Mente A, Yusuf S. Evidence relating sodium intake to blood pressure and CVD. Current cardiology reports. 2014; 16(10):529.
  6. Todd Alexander RM. Diets high in salt could deplete calcium in the body: UAlberta research. University of Alberta - Faculty of Medicine & Dentistry. 2012
  7. Nawata MY. Excessive Salt Consumption Appears to be Bad for Your Bones. Endocrine Society.
  8. Farez MF, Fiol MP, Gaitan MI, Quintana FJ, Correale J. Sodium intake is associated with increased disease activity in multiple sclerosis. Journal of neurology, neurosurgery, and psychiatry. 2015; 86(1):26-31.
  9. Kleinewietfeld M, Manzel A, Titze J, Kvakan H, Yosef N, Linker RA, et al. Sodium chloride drives autoimmune disease by the induction of pathogenic TH17 cells. Nature. 2013; 496(7446):518-22.
  10. Karppanen H, Mervaala E. Sodium Intake and Hypertension. Progress in Cardiovascular Diseases. 2006; 49(2):59-75.
  11. Wang X-Q, Terry PD, Yan H. Review of salt consumption and stomach cancer risk: Epidemiological and biological evidence. World Journal of Gastroenterology : WJG. 2009; 15(18):2204-13.
  12. D'Elia L, Rossi G, Ippolito R, Cappuccio FP, Strazzullo P. Habitual salt intake and risk of gastric cancer: a meta-analysis of prospective studies. Clinical nutrition (Edinburgh, Scotland). 2012; 31(4):489-98.
  13. Pogson Z, McKeever T. Dietary sodium manipulation and asthma. The Cochrane database of systematic reviews. 2011(3):Cd000436.
  14. Mickleborough TD, Lindley MR, Ray S. Dietary salt, airway inflammation, and diffusion capacity in exercise-induced asthma. Medicine and science in sports and exercise. 2005; 37(6):904-14.
  15. Farquhar WB, Edwards DG, Jurkovitz CT, Weintraub WS. Dietary Sodium and Health: More Than Just Blood Pressure. Journal of the American College of Cardiology. 2015; 65(10):1042-50.
  16. He FJ, Li J, Macgregor GA. Effect of longer-term modest salt reduction on blood pressure. The Cochrane database of systematic reviews. 2013; 4:Cd004937.
  17. He FJ, Li J, Macgregor GA. Effect of longer term modest salt reduction on blood pressure: Cochrane systematic review and meta-analysis of randomised trials. BMJ (Clinical research ed). 2013; 346:f1325.
  18. Reducing salt intake. WHO Regional Office for Europe. 2011
  19. George J, Majeed W, Mackenzie IS, MacDonald TM, Wei L. Association between cardiovascular events and sodium-containing effervescent, dispersible, and soluble drugs: nested case-control study [10.1136/bmj.f6954]. BMJ (Clinical research ed). 2013; 347
  20. Morris RC, Jr., Schmidlin O, Frassetto LA, Sebastian A. Relationship and interaction between sodium and potassium. Journal of the American College of Nutrition. 2006; 25(3 Suppl):262s-70s.
  21. Aburto NJ, Hanson S, Gutierrez H, Hooper L, Elliott P, Cappuccio FP. Effect of increased potassium intake on cardiovascular risk factors and disease: systematic review and meta-analyses [10.1136/bmj.f1378]. BMJ (Clinical research ed). 2013; 346
  22. He FJ, MacGregor GA. Potassium: more beneficial effects. Climacteric : the journal of the International Menopause Society. 2003; 6 Suppl 3:36-48.
  23. Roininen K, Lahteenmaki L, Tuorila H. Effect of umami taste on pleasantness of low-salt soups during repeated testing. Physiology & behavior. 1996; 60(3):953-8.
  24. Henney JE TC, Boon CS. Strategies to Reduce Sodium Intake in the United States. Washington (DC): National Academies Press (US). 2010
  25. Bower A, Marquez S, De Mejia EG. The Health Benefits of Selected Culinary Herbs and Spices Found in the Traditional Mediterranean Diet. Critical reviews in food science and nutrition. 2015:0.
  26. Opara EI, Chohan M. Culinary Herbs and Spices: Their Bioactive Properties, the Contribution of Polyphenols and the Challenges in Deducing Their True Health Benefits. International Journal of Molecular Sciences. 2014; 15(10):19183-202.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Quanta proteína é possível absorver por refeição?

Dentre a série de tópicos relativamente controversos englobados no mundo da nutrição temos a questão da quantidade de proteína que o corpo humano consegue absorver no seguimento de uma dada refeição. Relacionado com a mesma temática, temos a questão da definição da quantidade de proteína que idealmente se deve ingerir após a execução de um treino resistido, com vista a maximizar a síntese de proteína muscular. Estudos publicados até há poucos anos concluíram que a ingestão de 20 a 25 g de proteína de boa qualidade (whey, proteína do leite, ou proteína de ovo) após um treino de musculação direcionado à musculatura dos membros inferiores seria o suficiente para maximizar a síntese de proteína muscular em adultos jovens e saudáveis, sendo que em doses superiores os aminoácidos “excedentários” seriam simplesmente oxidados. 1,2   Entretanto, em 2016, os autores Macnaughton et al. 3 verificaram que a suplementação com 40 g de proteína whey após uma sessão de treino de musculação de corpo i

É Melhor Perder Peso de Forma Rápida ou Lenta?

A perda de gordura pode proporcionar vários benefícios para a saúde daqueles que têm excesso de peso. ¹⁻² e é uma necessidade imperativa para atletas de determinados desportos e para aqueles que participam em competições de culturismo e similares.³ No entanto, independentemente do ritmo a que se perde peso, há uma série de consequências negativas que são praticamente impossíveis de evitar. Esses efeitos indesejáveis incluem a diminuição da taxa metabólica basal em repouso,⁴ dos níveis de testosterona,⁵ perda de massa magra,⁶ e diminuição da força muscular.⁷⁻⁸ De forma a minimizar esses efeitos negativos, são muitos aqueles que evitam as dietas mais drásticas, do tipo yo-yo e que, em vez disso, aconselham uma perda de peso lenta, por exemplo, de 0,5 kg de peso corporal, por semana.³ O que diz a ciência? Já foram conduzidos variados estudos que procuraram determinar qual a velocidade de perda de peso que melhor preserva a taxa metabólica, a massa magra, bem como os níveis de testosterona

Os Suplementos Termogénicos Funcionam?

A obesidade encontra-se classificada como uma doença crónica cuja prevalência tem vindo a aumentar ao ponto de atualmente ser considerada uma pandemia. ¹ Atualmente, verifica-se que a maioria da população europeia (60%) encontra-se na categoria de pré-obesidade, ou obesidade. ¹ Em Portugal o cenário é relativamente similar, com 57,1% dos indivíduos a apresentar um índice de massa corporal ≥25 kg/m². ²   Logicamente, esta população numerosa representa um mercado apetecível para as empresas envolvidas na produção e/ou comercialização de suplementos alimentares, que ambicionem aumentar as suas vendas.  Do conjunto de suplementos direcionados para a perda de peso/gordura, destacam-se os termogénicos, os quais, supostamente, promovem um aumento da lipólise através de um aumento do metabolismo, induzido por determinados compostos presentes nesses suplementos.  Mas será que os suplementos termogénicos efetivamente facilitam a perda de peso ou de gordura em indivíduos pré-obesos ou obesos?  Cl