Muitas foram as crenças de que o treino da força estava estritamente associado à estética, à busca do corpo perfeito e, ainda, poderia prejudicar as chamadas populações especiais especificadamente os jovens.
Hoje, e cada vez mais, essas crenças vão sendo desmistificadas por estudos científicos que afirmam, claramente, que o treino da força beneficia a saúde de todos, inclusive dos grupos referidos anteriormente.
Dele são promovidos estímulos para qualidades de aptidão física como a força, a destreza, a velocidade, a potência e a resistência.
Para além destes benefícios, estão ainda ligados ao treino da força, o aumento da densidade óssea, a maior resistência dos tendões e ligamentos, a diminuição do tecido adiposo, o aumento da massa magra, a melhoria no funcionamento do coração, a diminuição das dores musculares localizadas, a prevenção de doenças como a obesidade, a aterosclerose, a diabetes, a hipertensão arterial e a osteoporose.
No campo da saúde mental, o treino da força apresenta certos benefícios como o aumento da autoestima e a melhoria do estado do humor.
Claro que é bastante óbvio - mas convém sempre lembrar - que o treino da força envolve processos complexos que só resultarão nos benefícios anteriormente descritos quando orientados e acompanhados por profissionais em educação física, com formação especifica nesta área.
Treino de força em crianças e jovens
O treino da força nos jovens vem sendo, a par com o treino da força nos idosos, tema de muitas discussões no seio da educação física.
Durante muitas décadas, os jovens foram pouco incentivados - arrisco-me, até, a dizer proibidos - de realizarem exercícios de força, e isso porque se achava que este tipo de treino dificultava a taxa de crescimento ósseo e retardava o desenvolvimento músculo-esquelético dos jovens.
Outros acreditavam que o treino da força em jovens com idades inferiores a 12 anos não tinha qualquer impacto, ou seja, eles beneficiavam com esse tipo de exercício pois não tinham testosterona suficiente que possibilitasse o aumento da força muscular.
Um estudo científico realizado em 2003, posteriormente revisto em 2006, sobre esta temática, demonstrou que o treino da força em jovens aumenta a produção de IGF-1, que por sua vez vai aumentar a síntese de proteínas e dar suporte aos efeitos anabólicas da Hormona do Crescimento, hormona fundamental no desenvolvimento corporal das crianças e jovens.
Neste estudo os investigadores concluíram que o treino da força não tem influência no desenvolvimento normal da altura corporal das crianças, pré-adolescentes e adolescentes.
Sempre me impressionou que os pais não hesitem em inscrever os filhos em modalidades desportivas como o futebol, a ginástica, o andebol, entre outros, mas quando pensam em colocá-los em programas de treino da força retraem-se pois pensam que isso poderá ser prejudicial à saúde óssea do jovem.
Porém, os estudos foram bastante claros. O treino da força, nas crianças, não compromete o crescimento ósseo e elas podem, efectivamente, aumentar a força muscular e, consequentemente, o seu peso corporal (Hoffman, 2002; Blimkie, 1993; Fleck 1999).
A American Academy of Pediatrics (2011), a American College of Sports Medicine (2000), a American Orthopedic Society of Sports Medicine (1988) e a National Strength and Conditioning Association (1996) apoiam a participação de jovens em programas de treino resistido, desde, claro, que estes tenham um planeamento adequado, uma supervisão e um acompanhamento competentes.
Para além disso, a maioria, entre eles os pais, desconhece que a execução técnica do saltar e do correr, das modalidades físicas como o futebol, o basquete e a ginástica, muitas vezes com treinos bi-diários, trazem, para as articulações e para os órgãos das crianças, uma sobrecarga 10 vezes superior à maioria dos exercícios de formação da força, como por exemplo o agachamento e o peso morto.
Embora nos estudos que consultei, não tenha visto mencionada a palavra “divertido”, ressalvo da minha experiencia como treinador, que a operacionalização de um programa de treino de força para estas faixas etárias tem que ser divertido e variado, devendo incluir exercícios que recrutem as mesmas capacidades motoras utilizadas nas brincadeiras das crianças, como seja saltar, correr etc, devidamente supervisionadas.
A falta de supervisão competente e adequada, é apontada pela NSCA, National Strength and Conditioning Association, como sendo a maior causa das lesões nos programas de desenvolvimento da força em crianças e jovens, daí a necessidade de supervisão técnica competente, por um profissional de educação física com experiencia na operacionalização de treinos de força para estas populações especiais.
Autor: Carlos Rebolo
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- Falk, B. Eliakim, A Resistence Training, Skeletal Muscle and Growth. Pedriatric Endocrinology Reviews. December 2003. 1(2), 120-127
- Dobins, M. Decorby, K., Rebeson, P. et al. School-Based Physical activity Programs for Promoting Physical Activity and Fitness in Children and Adolescents Aged 6-18. Cochrane Database System Review January. 1, DC007651.
- Faigenbraun, A Kraemer, W Blimkie, C., Jeffreys, I., et al. Youth Resistence Traiming: Updated Position Paper from the National Strength and Conditioning Association, Jornla of Strength and Conditioning Research, 2002.23 (Suppl 5) S60 – S79.
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