A aquacultura, ou a produção de peixe em cativeiro, tem vindo a expandir-se de forma significativa ao longo das últimas décadas e atualmente representa uma atividade económica de grande importância para a economia de vários países.
Devido à disponibilidade cada vez maior de peixe de aquacultura nas superfícies comerciais, muitas pessoas questionam-se se a composição nutricional deste difere da do peixe “selvagem” ou se contém mais contaminantes potencialmente prejudiciais para a saúde.
O salmão de aquacultura é igual ao salmão selvagem?
Tal como pode ver na tabela abaixo, uma das principais diferenças em termos de composição nutricional encontra-se no valor energético, que é notoriamente mais elevado no salmão de aquacultura (208 Kcal), em comparação com o do salmão selvagem (142 Kcal).
Composição nutricional por 100g
Salmão de aquacultura |
Salmão selvagem |
|
Kcal |
208 |
142 |
Gordura total |
13.4 g |
6.3 g |
Gordura saturada |
3 g |
0.99 g |
Gordura monoinsaturada |
3.8 g |
2.1 g |
Gordura polinsaturada |
3.9 g |
2.5 g |
Ácidos gordos ómega 3 |
2,4 g |
1,7 g |
Ácidos gordos ómega 6 |
982 mg |
172 mg |
Isso deve-se à quantidade de gordura mais elevada no salmão de aquacultura, cujo perfil de lípidos também é bastante diferente, contendo uma quantidade mais elevada de ácidos gordos ómega 3, mas também de ácidos gordos ómega 6.
Para além disso, o salmão selvagem também possui uma quantidade mais elevada dos seguintes minerais: ferro, magnésio, potássio e zinco, não existindo grandes diferenças em relação aos restantes nutrientes (1, 2).
Contaminantes
É sabido que ao longo da sua vida, os peixes vão acumulando vários tipos de contaminantes (PCBs, Pesticidas, Dioxinas, etc) que se encontram no seu meio ambiente. Com efeito, os resultados de um estudo publicado em 2004 indicam-nos que o peixe de aquacultura, mais especificamente o salmão, contém níveis significativamente mais elevados de vários contaminantes (3).
Verificou-se ainda que os níveis desses contaminantes variam de acordo com local onde o peixe é produzido. O salmão criado na Europa contém quantidades mais elevadas de contaminantes do que o salmão produzido na América do Norte e do Sul, sendo que é aquele proveniente da América do Sul que contém menos contaminantes (3).
Os autores desse estudo chegam mesmo a afirmar que “o consumo de salmão produzido no atlântico pode implicar riscos para a saúde que ultrapassam os benefícios que a ingestão de peixe proporciona” (3).
Metais pesados
Em relação à presença de metais pesados como o mercúrio, cádmio, cobre e cobalto, várias investigações chegaram a conclusões diferentes.
Uma dessas investigações que verificou que é, na verdade, o salmão selvagem que contém níveis mais elevados desses contaminantes, sendo que o salmão selvagem pode chegar a conter níveis três vezes mais elevados de mercúrio do que o salmão proveniente da aquacultura (4).
No entanto, outras duas investigações verificaram que no houve diferenças significativas em termos de presença de metilmercúrio entre o salmão de aquacultura e o salmão selvagem. Verificou-se ainda, no entanto, que o salmão de aquacultura continha níveis mais elevados de arsénico orgânico (5, 6).
Conclusão
Podemos concluir que realmente existem diferenças entre o peixe de aquacultura e o peixe selvagem, sobretudo a nível da composição nutricional, mas também em termos de presença de contaminantes ambientais como metais pesados, pesticidas e outros.
A diferença de preços que muitas vezes pode existir entre os dois tipos de peixe poderá não compensar em termos de benefícios para a saúde, até porque, pelo menos no caso do salmão, embora aquele proveniente da aquacultura tenha uma composição nutricional de qualidade ligeiramente inferior, também poderá ter níveis mais reduzidos de mercúrio.
Caso esteja preocupado com uma possível ingestão excessiva de metilmercúrio derivada da ingestão de peixe, pode sempre optar pelos tipos de alimentos provenientes do mar, que contém quantidades mais reduzidas desse composto tóxico, tais como: vieiras, mexilhão, anchovas, camarão, sardinhas, tilapia, etc (7).
➤ Mostrar/Ocultar Referências!
- United States Department of Agriculture - Agricultural Research Service Disponível em: http://ndb.nal.usda.gov/ndb/foods/show/4531?fg=&man=&lfacet=&format=&count=&max=25&offset=&sort=&qlookup=salmon.
- United States Department of Agriculture - Agricultural Research Service. Disponível em: http://ndb.nal.usda.gov/ndb/foods/show/4687?fg=&man=&lfacet=&format=&count=&max=25&offset=&sort=&qlookup=salmon.
- Hites RA, Foran Ja Fau - Carpenter DO, Carpenter Do Fau - Hamilton MC, Hamilton Mc Fau - Knuth BA, Knuth Ba Fau - Schwager SJ, Schwager SJ. Global assessment of organic contaminants in farmed salmon. (1095-9203 (Electronic))
- Ikonomou MG, Higgs Da Fau - Gibbs M, Gibbs M Fau - Oakes J, Oakes J Fau - Skura B, Skura B Fau - McKinley S, McKinley S Fau - Balfry SK, et al. Flesh quality of market-size farmed and wild British Columbia salmon. (0013-936X (Print))
- Easton MDL, Luszniak D, Von der Geest E. Preliminary examination of contaminant loadings in farmed salmon, wild salmon and commercial salmon feed. Chemosphere. 2002; 46(7):1053-74.
- Foran JA, Hites Ra Fau - Carpenter DO, Carpenter Do Fau - Hamilton MC, Hamilton Mc Fau - Mathews-Amos A, Mathews-Amos A Fau - Schwager SJ, Schwager SJ. A survey of metals in tissues of farmed Atlantic and wild Pacific salmon. (0730-7268 (Print))
- FDA U.S. Food and Drug Administration - Mercury Levels in Commercial Fish and Shellfish. Disponível em: http://www.fda.gov/food/foodborneillnesscontaminants/metals/ucm115644.htm.
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