A maltodextrina, juntamente com outros tipos de hidratos de carbono, é um dos suplementos mais conhecidos e consumidos pelos praticantes de musculação, principalmente no Brasil1,2.
Mas o que é exatamente a maltodextrina? De onde provém? Para que serve? Que benefícios ou vantagens proporciona comparativamente a outras fontes de hidratos de carbono? Será que a suplementação com este produto faz sentido para aqueles que fazem treino de musculação ou outros tipos de exercício resistido?
O que é a maltodextrina?
A maltodextrina é um tipo de hidrato de carbono (carboidrato) obtido a partir da degradação (despolimerização) de grânulos de amido provenientes de alimentos como o milho, trigo, sorgo, batata, mandioca, arroz e outros3,4.
O amido é constituído por amilose e amilopectina, que por sua vez são constituídos por múltiplas moléculas de glucose (dextrose) unidas entre si. A sua degradação em moléculas mais pequenas, por via de tratamentos mecânicos e enzimáticos, origina cadeias de glicose mais curtas5.
Desta forma, podemos considerar que a maltodextrina é um derivado de amido que foi parcialmente digerido, podendo conter entre 3 a 20 unidades de glicose unidas entre si7.
Como tal, após ingerida, a maltodextrina é degradada pelas mesmas enzimas que hidrolisam o amido, nomeadamente a enzima α-amilase, presente na saliva e no intestino delgado, a qual produz moléculas de maltose3.
Posteriormente, a maltose pode ser hidrolisada pela enzima maltase, gerando assim duas moléculas de glicose8, as quais podem absorvidas pelo enterócitos presentes no epitélio intestinal, passando depois para o sangue3.
Sendo a maltodextrina uma fonte de hidrato de carbono “complexo”, poder-se-ia pensar que a sua digestão e absorção é mais lenta em comparação com a glicose (dextrose), resultando num índice glicémico mais baixo3.
No entanto, verifica-se que o processo de degradação de maltodextrina em maltose e glicose, por ação enzimática, ocorre de forma relativamente rápida ao longo do processo digestivo3.
A maltodextrina é, portanto, um polímero de glicose que deverá ter um índice glicémico relativamente próximo ao da glicose pura (100)9-11.
De notar que tanto o amido, como a maltodextrina e a glucose fornecem 4 kcal por grama3.
Para que serve?
A maltodextrina em pó tem algumas propriedades que tornam o seu uso interessante, principalmente na indústria alimentar.
Ao contrário do que acontece com o amido, a maltodextrina é solúvel em água, o que permite o seu uso como agente gelificante, modificador de textura, substituto de gordura, para adicionar volume, proteção de danos associados ao congelamento e para prolongar a vida útil de variados tipos de produtos alimentares. Tem ainda ligeiras propriedades adoçantes5.
Isto também permite o seu uso em bebidas desportivas12,13 e também como suplemento alimentar14, sendo amplamente utilizado por atletas, com o objetivo de promover a re-síntese de glicogênio após a prática de exercício15.
A toma combinada de uma fonte de hidratos de carbono de elevado índice glicémico com creatina também parece promover uma maior retenção intramuscular de creatina, em comparação com a toma isolada de creatina, possivelmente devido ao aumento dos níveis de insulina16,17.
Sendo solúvel em água5, é fácil incorporar a maltodextrina em batidos, juntamente com a proteína whey e outros suplementos que se pretendam adicionar a um shaker.
Para além disso, a maltodextrina é significativamente menos doce em comparação com a dextrose, frutose e sacarose3,18,19. Isto significa que o seu consumo poderá ser menos enjoativo aquando da ingestão de quantidades significativas. Essa particularidade, juntamente com a sua solubilidade em água, também poderá ajudar a explicar a sua adição a suplementos do tipo "Weight Gainer".
Conclusão
A maltodextrina é uma fonte de hidratos de carbono pouco doce, de dissolução fácil, de absorção rápida, elevado índice glicémico e que pode facilmente ser ingerida no final dos treinos com o objetivo de promover a rápida re-síntese de glicogénio.
A ingestão de hidratos de carbono de elevado índice glicémico juntamente com creatina, parece promover uma maior retenção de creatina no músculo esquelético, o que poderá ser útil quando se pretende aumentar os seus níveis intramusculares de forma rápida.
No entanto, será que o típico praticante de musculação, que apenas treina cada grupo muscular uma ou duas vezes por semana beneficia com a suplementação com maltodextrina ou de outra fonte de hidratos de carbono de elevado IG no final dos treinos? Essa prática traz vantagens em termos de ganhos de força e/ou de massa muscular? Esse será um tema a abordar num futuro artigo.
➤ Mostrar/Ocultar Referências!
- Lacerda FMM, Carvalho WRG, Hortegal EV, Cabral NAL, Veloso HJF. Factors associated with dietary supplement use by people who exercise at gyms. Rev Saude Publica. 2015;49:63-63.
- Caparros DR, Baye AS, Barreiros FR, Stulbach TE, Navarro FJRBdNE. Análise da adequação do consumo de carboidratos antes, durante e após treino e do consumo de proteínas após treino em praticantes de musculação de uma academia de Santo André-SP. 2015;9(52):298-306.
- Hofman DL, van Buul VJ, Brouns FJPH. Nutrition, Health, and Regulatory Aspects of Digestible Maltodextrins. Crit Rev Food Sci Nutr. 2016;56(12):2091-2100.
- Mohamed Amin Z, Koh SP, Yeap SK, Abdul Hamid NS, Tan CP, Long K. Efficacy Study of Broken Rice Maltodextrin in In Vitro Wound Healing Assay. Biomed Res Int. 2015;2015:687694-687694.
- Takeiti CY, Kieckbusch TG, Collares-Queiroz FP. Morphological and Physicochemical Characterization of Commercial Maltodextrins with Different Degrees of Dextrose-Equivalent. International Journal of Food Properties. 2010;13(2):411-425.
- Abdel-Raouf M, Abdul-Raheim AJJoPE, Control. Removal of heavy metals from industrial waste water by biomass-based materials: a review. 2017;5(1):1-13.
- Dokic P, Jakovljevic J, Dokic-Baucal LJC, Physicochemical SA, Aspects E. Molecular characteristics of maltodextrins and rheological behaviour of diluted and concentrated solutions. 1998;141(3):435-440.
- Nichols BL, Baker SS, Quezada-Calvillo R. Metabolic Impacts of Maltase Deficiencies. Journal of pediatric gastroenterology and nutrition. 2018;66 Suppl 3:S24-s29.
- Gonzalez JT, Fuchs CJ, Betts JA, van Loon LJC. Glucose Plus Fructose Ingestion for Post-Exercise Recovery-Greater than the Sum of Its Parts? Nutrients. 2017;9(4):344.
- Rytz A, Adeline D, Lê K-A, et al. Predicting Glycemic Index and Glycemic Load from Macronutrients to Accelerate Development of Foods and Beverages with Lower Glucose Responses. Nutrients. 2019;11(5):1172.
- Stevenson EJ, Watson A, Theis S, Holz A, Harper LD, Russell M. A comparison of isomaltulose versus maltodextrin ingestion during soccer-specific exercise. Eur J Appl Physiol. 2017;117(11):2321-2333.
- Chronakis IS. On the molecular characteristics, compositional properties, and structural-functional mechanisms of maltodextrins: a review. Crit Rev Food Sci Nutr. 1998;38(7):599-637.
- Whistler RL, BeMiller JN, Paschall EF. Starch: chemistry and technology. Academic Press; 2012.
- Wilburn DT, Machek SB, Cardaci TD, Hwang PS, Willoughby DS. Acute Maltodextrin Supplementation During Resistance Exercise. J Sports Sci Med. 2020;19(2):282-288.
- Fisher-Wellman KH, Bloomer RJ. Lack of effect of a high-calorie dextrose or maltodextrin meal on postprandial oxidative stress in healthy young men. International journal of sport nutrition and exercise metabolism. 2010;20(5):393-400.
- Green AL, Hultman E, Macdonald IA, Sewell DA, Greenhaff PL. Carbohydrate ingestion augments skeletal muscle creatine accumulation during creatine supplementation in humans. The American journal of physiology. 1996;271(5 Pt 1):E821-826.
- Steenge GR, Simpson EJ, Greenhaff PL. Protein- and carbohydrate-induced augmentation of whole body creatine retention in humans. Journal of applied physiology (Bethesda, Md : 1985). 2000;89(3):1165-1171.
- Hull P. Glucose syrups: technology and applications. John Wiley & Sons; 2010.
- Maltodextrin. 2018; https://www.acs.org/content/acs/en/molecule-of-the-week/archive/m/maltodextrin.html. Accessed 25/06/2020.
Comentários
Enviar um comentário