Avançar para o conteúdo principal

O Que Acontece se Voltar a Treinar Quando Ainda Não Está Recuperado?

Por vezes, os praticantes de musculação ou atletas de variados desportos voltam a exercitar um ou vários grupos musculares que ainda estão doridos e que ainda não recuperaram completamente da sessão de treino anterior. Nesse caso, haverá consequências negativas para esses indivíduos?

Podemos voltar a treinar quando o músculo ainda não está recuperado?

Para começar, sabemos que a realização de uma sessão de treino resistido, não habitual, induz danos musculares e geralmente provoca dor muscular de aparição tardia, a qual atinge o seu pico às 24-48 horas após o exercício, diminuição prolongada da produção de força, edema, dor muscular, aumento de marcadores inflamatórios no músculo afetado e no sangue, bem como uma maior presença de proteínas musculares no sangue, durante bastantes dias após o trauma inicial.(1)

Nesse cenário, ocorrem ainda outros efeitos metabólicos, incluindo uma diminuição da sensibilidade à insulina, depleção prolongada dos níveis de glicogénio e um aumento da taxa metabólica, tanto em repouso como durante o exercício.(2)

Num estudo realizado em 1995, os investigadores detetaram níveis mais elevados de cortisol quando voluntários realizaram exercício sob a influência de dor muscular de aparição tardia e os investigadores sugeriram que o exercício foi mais stressante nesse cenário.(3)

Por sua vez, Pullinen et al. (2002b) verificaram que os níveis de cortisol e de hormona de crescimento (GH) em soro, diminuíram de forma significativa num segundo episódio de exercício dinâmico de extensão dos joelhos, realizado com os músculos doridos, apenas após 48 horas após um episódio de exercício idêntico ao exercício inicial, que conduziu à dor muscular de aparição tardia.(4)

Embora tenham detetado aumentos dos níveis de óxido nítrico após um episódio inicial de diferentes episódios de exercício excêntrico, e que conduziram a danos musculares induzidos pelo exercício. Chen & Nosaka não observaram esses aumentos após um episódio de exercício realizado 3 dias depois.(5)

Num estudo recente, oito homens (31 anos) e oito rapazes (14 anos) realizaram dois episódios de exercício, com 48 h de descanso entre si, que consistiram em três séries de extensões de joelhos, até à exaustão.(6)

Nesse trabalho, os investigadores observaram diminuições dos níveis de pico de epinefrina (-38%), hormona de crescimento (GH) (-45%) e de cortisol (-31%) quando o evento foi realizado sob a influência da dor muscular de aparição tardia.(6)

Conclusão

Tendo em conta os dados apresentados neste artigo, pode-se concluir que a realização de uma sessão de treino resistido, ainda num cenário de dor muscular de aparição tardia, não será o mais aconselhável.

Provavelmente será mais adequado permitir que os grupos musculares previamente trabalhados recuperem completamente antes de os voltar a treinar.

➤ Mostrar/Ocultar Referências!

Clarkson PM, Hubal MJ. Exercise-induced muscle damage in humans. American journal of physical medicine & rehabilitation. 2002;81(11 Suppl):S52-69.

Tee JC, Bosch AN, Lambert MI. Metabolic consequences of exercise-induced muscle damage. Sports medicine (Auckland, NZ). 2007;37(10):827-836.

Gleeson M, Blannin AK, Zhu B, Brooks S, Cave R. Cardiorespiratory, hormonal and haematological responses to submaximal cycling performed 2 days after eccentric or concentric exercise bouts. Journal of sports sciences. 1995;13(6):471-479.

Pullinen T, Mero A, Huttunen P, Pakarinen A, Komi PV. Hormonal responses to a resistance exercise performed under the influence of delayed onset muscle soreness. Journal of strength and conditioning research. 2002;16(3):383-389.

Chen TC, Nosaka K. Effects of number of eccentric muscle actions on first and second bouts of eccentric exercise of the elbow flexors. Journal of science and medicine in sport. 2006;9(1-2):57-66.

Pullinen T, Mero A, Huttunen P, Pakarinen A, Komi PV. Resistance exercise-induced hormonal response under the influence of delayed onset muscle soreness in men and boys. Scandinavian journal of medicine & science in sports. 2011;21(6):e184-194.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Quanta proteína é possível absorver por refeição?

Dentre a série de tópicos relativamente controversos englobados no mundo da nutrição temos a questão da quantidade de proteína que o corpo humano consegue absorver no seguimento de uma dada refeição. Relacionado com a mesma temática, temos a questão da definição da quantidade de proteína que idealmente se deve ingerir após a execução de um treino resistido, com vista a maximizar a síntese de proteína muscular. Estudos publicados até há poucos anos concluíram que a ingestão de 20 a 25 g de proteína de boa qualidade (whey, proteína do leite, ou proteína de ovo) após um treino de musculação direcionado à musculatura dos membros inferiores seria o suficiente para maximizar a síntese de proteína muscular em adultos jovens e saudáveis, sendo que em doses superiores os aminoácidos “excedentários” seriam simplesmente oxidados. 1,2   Entretanto, em 2016, os autores Macnaughton et al. 3 verificaram que a suplementação com 40 g de proteína whey após uma sessão de treino de musculação de corpo i

Os Suplementos Termogénicos Funcionam?

A obesidade encontra-se classificada como uma doença crónica cuja prevalência tem vindo a aumentar ao ponto de atualmente ser considerada uma pandemia. ¹ Atualmente, verifica-se que a maioria da população europeia (60%) encontra-se na categoria de pré-obesidade, ou obesidade. ¹ Em Portugal o cenário é relativamente similar, com 57,1% dos indivíduos a apresentar um índice de massa corporal ≥25 kg/m². ²   Logicamente, esta população numerosa representa um mercado apetecível para as empresas envolvidas na produção e/ou comercialização de suplementos alimentares, que ambicionem aumentar as suas vendas.  Do conjunto de suplementos direcionados para a perda de peso/gordura, destacam-se os termogénicos, os quais, supostamente, promovem um aumento da lipólise através de um aumento do metabolismo, induzido por determinados compostos presentes nesses suplementos.  Mas será que os suplementos termogénicos efetivamente facilitam a perda de peso ou de gordura em indivíduos pré-obesos ou obesos?  Cl

É Melhor Perder Peso de Forma Rápida ou Lenta?

A perda de gordura pode proporcionar vários benefícios para a saúde daqueles que têm excesso de peso. ¹⁻² e é uma necessidade imperativa para atletas de determinados desportos e para aqueles que participam em competições de culturismo e similares.³ No entanto, independentemente do ritmo a que se perde peso, há uma série de consequências negativas que são praticamente impossíveis de evitar. Esses efeitos indesejáveis incluem a diminuição da taxa metabólica basal em repouso,⁴ dos níveis de testosterona,⁵ perda de massa magra,⁶ e diminuição da força muscular.⁷⁻⁸ De forma a minimizar esses efeitos negativos, são muitos aqueles que evitam as dietas mais drásticas, do tipo yo-yo e que, em vez disso, aconselham uma perda de peso lenta, por exemplo, de 0,5 kg de peso corporal, por semana.³ O que diz a ciência? Já foram conduzidos variados estudos que procuraram determinar qual a velocidade de perda de peso que melhor preserva a taxa metabólica, a massa magra, bem como os níveis de testosterona