É habitual ingerir-se proteína de ovo durante o período de recuperação do exercício para facilitar o aumento da taxa de síntese de proteína muscular, e desse modo, suportar a resposta adaptativa do músculo esquelético ao treino.
No famoso filme Rocky, uma das partes mais memoráveis será certamente a ocasião em que o ator Sylvester Stallone toma o seu “pequeno-almoço dos campeões”, o qual consiste em 5 ovos crus.
Mas será boa prática ingerir ovos crus em vez de cozidos?
A esse respeito, já foi publicado um estudo no qual se verificou que a absorção intestinal da proteína do ovo cozido é significativamente superior à do ovo cru (91% vs, 50%), sobretudo devido à inativação, pelo calor, de proteínas presentes no ovo que inibem a atuação de enzimas proteolíticas.
Mas o que será que acontece ao nível da síntese de proteína muscular, quando se ingere ovos no final de um treino com pesos?
Essa foi a questão a que um grupo de investigadores procurou responder. No seu estudo, compararam o impacto da ingestão de ovos crus versus ovos cozidos nas taxas de síntese de proteína miofibrilar durante o período de recuperação pós-treino.
Para o efeito, recrutaram 45 homens jovens, com uma idade média de 24 anos, com experiência prévia de treino de força.
Após uma sessão de treino resistido de corpo inteiro, dois grupos de voluntários ingeriram 5 ovos, os quais forneceram cerca de 30 grama de proteína.
No entanto, um grupo ingeriu 5 ovos crus, enquanto outro ingeriu 5 ovos cozidos. Para efeitos de comparação, estabeleceu-se também um grupo adicional, de controlo, que ingeriu um pequeno-almoço que continha 5 gr de proteína.
Estes investigadores realizaram biopsias musculares 2 e 5 horas após o final do treino, com vista a determinar as taxas de síntese de proteína miofibrilar, e também registaram as concentrações de aminoácidos no plasma.
Tal como seria de esperar, a ingestão de ovos aumentou significativamente as concentrações de aminoácidos no sangue, tendo-se registado concentrações de pico 20% mais elevadas para o grupo que ingeriu os ovos cozidos, em comparação com a ingestão de ovos crus.
Na prática, a absorção e surgimento de aminoácidos no sangue foi mais precoce para aqueles que ingeriram os ovos cozidos, e mais lenta no caso da ingestão de ovos crus.
Também as taxas de síntese de proteína miofibrilar aumentaram significativamente durante o período pós-exercício em ambos os grupos (2-4 vezes), sem que se tenham registado diferenças significativas entre os dois grupos.
Em comparação com o grupo de controlo que ingeriu o pequeno-almoço, o aumento foi de 20% para o grupo que ingeriu ovos crus, e de 18% para aqueles que ingeriram ovos cozidos, sem diferenças significativas entre os dois grupos que ingeriram ovos.
A ingestão de ovos crus, em oposição aos ovos cozidos, atenua o aumento pós-prandial das concentrações de aminoácidos essenciais em circulação, mas as taxas de síntese de proteína miofibrilar não diferiram após a ingestão de 5 ovos crus em comparação com 5 ovos cozidos.
Embora Rocky não estivesse consciente dos benefícios dos ovos cozidos para a síntese de proteína pós-prandial, ele não comprometeu o condicionamento muscular pós-exercício ao consumir ovos crus.
Comentários
Enviar um comentário