Nos últimos meses temos assistido à publicação de dezenas de artigos em jornais, revistas e blogues, que sugerem que o consumo de chocolate pode ser benéfico para o coração, o cérebro e que pode até ajudar a perder gordura.
A verdade é que a maioria das pessoas são facilmente influenciáveis por artigos deste género e podem facilmente adotar ou reforçar comportamentos alimentares prejudiciais para a saúde, incluindo a ingestão de alimentos processos, de origem de industrial, tal como biscoitos com pepitas de chocolate, bolos de chocolate, etc…
Quer dizer, o chocolate faz bem à saúde, certo? Até as últimas investigações científicas apontam nesse sentido, não é verdade? Até jornais prestigiados como o NY Times escreveram que o chocolate é um “alimento saudável” (1).
Sim, a ciência afirma que o “chocolate é um alimento saudável!” Mas quando analisamos as coisas com mais atenção, verificamos que o chocolate que realmente faz bem à saúde é muito diferente da maioria do tipo de chocolate que se vende nas superfícies comerciais.
O que as investigações científicas realmente indicam é que, pequenas quantidades de chocolate verdadeiro e possivelmente o chocolate normal enriquecido com quantidades industriais de polifenóis, podem ser benéficos para a saúde. Isto exclui automaticamente 99% do chocolate e dos alimentos que contêm chocolate, que se pode adquirir nos supermercados.
A maior parte do chocolate que se encontra à venda ao público, faz com que as pessoas engordem, se tornem diabéticas, hipertensas e esquecidas. A verdade é que as pessoas engordam e o seu estado de saúde piora quando passam a comer mais chocolate.
O chocolate normal (com leite), com um conteúdo de polifenóis de <5 de ácido gálico e o chocolate preto normal com um conteúdo de <15 de ácido gálico, tem os mesmos efeito promotores da obesidade, que um chocolate pobre em polifenóis. Isto segundo um estudo realizado recentemente (2).
Como pode ver no estudo que indicamos acima, o consumo de apenas 20 gramas de chocolate (pobre em polifenóies) por dia, fez com que os voluntários ganhassem 500 gramas de gordura no final de 4 semanas. A este ritmo, no final de um ano os voluntários teriam tido um aumento de 6 kg de peso.
Este aumento do peso iria aumentar o seu risco de diabetes tipo II por uns notórios 19%, iria duplicar o seu risco de hipertensão e portanto iria aumentar também o seu risco de AVC, problemas cardiovasculares, renais e de demência.
O chocolate preto pode melhorar a saúde?
Mas afinal o chocolate preto faz bem à saúde ou não? Antes de começar a comer chocolate pelos seus potenciais benefícios para a saúde, é necessário definir primeiro o que é o “chocolate verdadeiro”.
Há que ter em atenção que os benefícios que o chocolate proporciona ao nível da redução da tensão arterial, foram todos observados em estudos em que um chocolate rico em flavonóides/polifenóis foi comparado com um chocolate normal (com leite) ou com um chocolate preto pobre em polifenóis (3).
Por mais incrível que isso lhe possa parecer, restam poucas dúvidas de que os benefícios para a saúde ao nível do aumento dos níveis de colesterol HDL, da sensibilidade à insulina, funcionamento das células beta, e as correspondentes diminuições dos níveis de colesterol LDL, colesterol total, tensão arterial, etc… não irão ocorrer nas pessoas que começam a comer chocolate depois de terem lido um artigo que (des)informa sobre como o chocolate faz bem à saúde.
São os flavonoides, os compostos ativos presentes no chocolate que realmente podem proporcionar benefícios para a saúde, mas as formulações de chocolate são mais variadas do que o café.
Em termos gerais, o chocolate preto, mais amargo, menos cremoso e suave do que o chocolate de leite, contêm uma maior quantidade de flavonoides do que o leite de chocolate, mas é difícil saber qual é a quantidade de flavonoides presente e a quantidade pode variar imenso de marca para marca, ao ponto de até o chocolate de culinária poder conter uma maior quantidade de flavonoides do que os chocolates pretos (4).
Na verdade, e ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, o chocolate preto não é muito mais saudável do que o chocolate de leite convencional.
Sim, tem o dobro dos polifenóis, mas ainda assim proporciona uma quantidade cerca de 50% inferior à quantidade que se pode obter a partir do chocolate de culinária e portanto a quantidade é provavelmente tão reduzida que é questionável se este tipo de chocolate mais escuro pode realmente proporcionar os supostos benefícios para a saúde.
Conclusão
Sugiro que a partir de hoje tenha cuidado ao ler artigos com títulos apelativos e exagerados como “O chocolate faz bem ao coração”, “Ingredientes do chocolate podem ajudar a prevenir a obesidade”, “O chocolate mantem o cérebro saudável”, ou “Evidências sugerem que os consumidores de chocolate são mais magros”.
Ao contrário do que possa parecer, os supostos “benefícios” do chocolate ainda são um tema controverso na comunidade científica e por isso sugiro que não passe ingerir quantidades de significativas de chocolate por causa desse tipo de artigos com títulos apelativos, ou poderá ter a desagradável surpresa de ganhar mais alguns quilos de gordura no final de várias semanas.
Note que existem muitos outros alimentos que também contêm flavonóides e podem proporcionar benefícios para a saúde. Mas se ainda quiser ingerir o chocolate mais “saudável” possível, procure aquele que tiver mais quantidade de polifenóis.
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