Apesar do seu consumo moderado poder proporcionar alguns benefícios para a saúde, está confirmado que a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas aumenta o risco de várias doenças, tais como a demência, cancro da mama, cancro do cólon, cirrose, vários tipos de cancro do trato digestivo superior (1) e, o seu consumo poderá ser especialmente problemático para os desportistas e/ou para aqueles que procuram melhorar a sua composição corporal.
Para além de interferir de forma negativa no metabolismo da glucose, sobretudo ao nível hepático, onde inibe a gliconeogênese (2) e ainda diminuindo os níveis de glicose em circulação durante e após os treinos com pesos (3), o etanol provoca ainda vários efeitos negativos para aqueles que pretendem melhorar ou apenas manter a sua forma física.
Reduz a síntese de proteína muscular
Está confirmado que o álcool, juntamente com os produtos secundários resultantes do seu metabolismo no corpo humano (tais como o acetaldeído) têm um efeito inibidor na síntese de proteína no tecido muscular (menos 15 a 30%), sobretudo nas fibras musculares do tipo II, que são aquelas que respondem de forma mais dramática à hipertrofia (4).
Também se verificou que o etanol reduz a capacidade de estímulo de síntese de proteína de algumas hormonas, incluindo a insulina (menos 30%), e IGF-1 (menos 60%) (4).
A exposição ao etanol também provoca um aumento marcado dos níveis de miostatina das células musculares (miócitos) (4).
A miostatina é considerada catabólica e um potente inibidor do tecido muscular esquelético, sendo que os praticantes de musculação têm especial interesse em manter os seus níveis reduzidos, ou pelo menos dentro dos valores normais.
Reduz os níveis de testosterona
Verificou-se que os efeitos do álcool nos níveis de testosterona são dependentes da dose. Parece que a ingestão de uma dose inferior a 1.5 g/kg provoca um ligeiro aumento dos níveis deste hormona, tanto nos homens como em mulheres.
No entanto, a ingestão de uma quantidade superior a 1.5 g/kg provoca uma redução significativa dos níveis de testosterona nos homens, enquanto aumenta o das mulheres. Para atingir essa dose, seria necessário ingerir cerca de 5-6 copos de cerveja com uma concentração de 4.5 a 6% de álcool (5).
Na tabela acima, as barras brancas representam os grupos controlo, que ingeriram um placebo, e as barras pretas representam os grupos que ingeriram álcool (6).
Parece que esses efeitos se devem parte a uma diminuição dos níveis de hormona leutinizante, mas também devido a uma inibição da síntese de testosterona pelos testículos (7).
Reduz os níveis de Hormona de Crescimento
Considerada uma das hormonas mais anabólicas, parece que a hormona de crescimento também pode sofrer uma redução dos seus níveis no sangue aquando da presença de etanol. Devido a isso, os níveis de IGF-1 também sofrem uma redução marcada, tal como ficou confirmado em vários estudos (6).
4 estudos detetaram uma redução significativa dos níveis de hormona de crescimento em soro após a ingestão de bebidas alcoólicas e em 5 estudos foram ainda confirmados níveis mais reduzidos de hormona leutinizante (4).
Aumenta os níveis de cortisol
Esta é considerada uma hormona catabólica, cujos níveis deverão manter-se preferencialmente controlados, no entanto, vários estudos realizados até hoje observaram um aumento notório dos níveis de cortisol após a ingestão de bebidas alcoólicas.
Tal como pode ver no gráfico abaixo, um estudo verificou que, após a infusão com 1.75 g/kg de álcool, os níveis de cortisol no sangue dispararam e mantiveram-se mais elevados ao longo de mais de 24 horas (8).
É possível observar um pico dos níveis de cortisol dentro das primeiras 4 horas, altura em que se registou um aumento de 152% do cortisol em comparação com o grupo de controlo.
Parece que esse efeito poderá ser mediado, pelo menos em parte, por um aumento dos níveis de hormona adrenocortitrófica, provocado pela ingestão de álcool (9, 10).
Também foi observado um aumento dos níveis de cortisol em jogadores de rugby que ingeriram 1 grama de etanol por kg de peso corporal, juntamente com vários efeitos detrimentais na recuperação e no rendimento desportivo (11).
Aumenta os níveis de prolactina
A prolactina é uma hormona conhecida sobretudo por promover a lactação nos mamíferos. Os níveis elevados desta hormona, no homem, podem provocar uma série de efeitos indesejáveis, sobretudo ao nível do desempenho sexual: diminuição do desejo sexual, disfunção eréctil, impotência, osteoporose e ainda ginecomastia (12, 13).
Pensa-se que esses efeitos nos níveis de prolactina poderão dever-se a mudanças temporárias nos níveis de dopamina e de opióides no hipotálamo (14).
Diminui os níveis de leptina
A ingestão de quantidades moderadas de álcool (0.45g/kg) também tem um efeito inibidor da secreção de leptina, provocando uma redução de 11,7 a 25,7% dos níveis desta hormona no sangue.
A leptina é uma hormona que é libertada pelas células adiposas e está estreitamente associada ao controlo do apetite. A redução dos níveis desta hormona pode provocar um aumento significativo da sensação de fome (15).
Conclusão
A partir dos dados apresentados neste artigo, podemos facilmente concluir que a ingestão de álcool não favorece o anabolismo muscular nem uma melhoria da composição corporal, interferindo ainda de forma negativa na recuperação dos treinos.
Foi comprovado que a ingestão de etanol, principalmente quando ingerido em grandes significativas, promove um ambiente catabólico, nomeadamente através de um aumento da atividade da miostatina e de alterações dos níveis de vários hormonas importantes, tais como uma redução dos níveis de testosterona, dos níveis de hormona do crescimento e de um aumento significativo dos níveis de cortisol e prolactina.
Por outro lado, a redução dos níveis de leptina pode levar a um aumento do apetite e, consequentemente a uma ingestão excessiva de alimentos, o que por sua vez poderá conduzir a um aumento da gordura corporal acumulada.
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