A cãibra muscular é uma contração ou encurtamento súbito, severo e involuntário do músculo. Pode causar dor leve a grave e uma imobilidade parecida com paralisia. Geralmente, a sua resolução é espontânea após vários segundos, minutos ou no pior cenário após várias horas.1
Esta é uma das condições que ocorre com maior frequência durante ou imediatamente após o exercício (evento desportivo)2,3 e as suas causas ainda não estão bem esclarecidas.2-4
A sua prevalência parece ser mais elevada em atletas de desportos de endurance,5 estando associada ao exercício de alta intensidade e longa duração.6
Quais as causas das cãibras musculares associadas ao exercício?
Existem duas teorias prevalentes acerca das causas das cãibras musculares associadas ao exercício. A mais antiga é a teoria da “desidratação e depleção de eletrólitos” (equilíbrio de água-sal). Mais recentemente, surgiu a teoria do “controlo neuromuscular alterado” (origem neurológica).2,4,7,8
Desidratação e depleção de eletrólitos: De acordo com esta hipótese, a cãibra muscular ocorre devido ao aumento da osmolalidade do fluído extracelular, provocado pela sudação, o qual promove a passagem de fluído intersticial para o espaço extracelular. Consequentemente, o espaço intersticial vai perdendo volume, o que provoca um aumento da pressão em determinados nervos e, consequentemente, alterações ao nível da sua excitabilidade.7
Controlo neuromuscular alterado: Segundo esta hipótese, o aumento gradual da fadiga favorece o desequilíbrio entre o aumento progressivos dos impulsos excitatórios provenientes dos fusos musculares e a diminuição dos impulsos inibitórios dos órgãos tendinosos de Golgi.7
A literatura mais recente sugere que a combinação destas duas teorias constitui o modelo mais convincente que explica a origem da cãibra muscular associada ao exercício,4 embora a evidência mais forte favoreça a hipótese do controlo neuromuscular alterado, com maior foco na fadiga muscular.2,7
O magnésio está associado a cãibras musculares?
Um artigo de revisão de 2012 concluiu ser pouco provável que a suplementação com magnésio providencie benefícios clínicos significativos no tratamento de cãibras musculares em adultos idosos. Para além disso, os investigadores não encontraram estudos randomizados controlados que tenham avaliado a utilização de magnésio no tratamento de cãibras musculares associadas ao exercício.9
Além do mais, a deficiência de outros minerais, incluindo cálcio e potássio, também está associada à ocorrência de cãibras e espasmos musculares. É possível que o magnésio possa ser útil em situações de défice de magnésio, mas não será útil se o problema estiver relacionado com o défice de outro/s nutriente/s.10
Estratégias para prevenir ou tratar cãibras musculares
As estratégias existentes de tratamento e prevenção de cãibras musculares associadas ao exercício incluem: electroestimulação, vestuário de compressão, fita kinésio, roupa de compressão, massagem terapêutica, exercícios corretivos, exercícios de alongamento (o método de tratamento mais eficiente), estratégias de hiperventilação e estratégias para atrasar a fadiga induzida pelo exercício (o método mais eficiente na prevenção).3,4,8,11
As estratégias nutricionais que poderão auxiliar na prevenção de cãibras musculares associadas ao exercício incluem hidratação adequada e a suplementação com eletrólitos (para obter níveis adequados de eletrólitos), a quinina e o sumo de picles.3,4
Relativamente à quinina, existe evidência de baixa qualidade de que a sua ingestão (200 mg a 500 mg por dia) reduz o número de cãibras e os dias de cãibras de forma significativa e evidência de qualidade moderada de que reduz a intensidade das cãibras. Alguns trabalhos também sugerem que a combinação de teofilina com quinina melhora mais as cãibras do que a ingestão de apenas quinina.12
Em relação ao sumo de picles, um estudo realizado com seres humanos hipohidratados verificou que a sua ingestão (1 ml/Kg de peso corporal) inibe, de forma rápida, cãibras induzidas por estímulos elétricos. Este efeito não pôde ser explicado pelo restabelecimento rápido dos eletrólitos ou fluídos corporais e os investigadores pensam que a inibição rápida das cãibras induzidas deve-se a um reflexo mediado por via neurológica que tem origem na região orofaríngea e atua no sentido de inibir o disparo de neurónios motores no músculo afetado por cãibras.13
➤ Mostrar/Ocultar Referências!
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