O ácido guanidinoacético é um precursor da creatina e portanto um composto intermediário formado durante um dos passos da síntese endógena de creatina(1).
Este composto intermediário é sintetizado principalmente nos rins e pâncreas a partir dos aminoácidos glicina e arginina pela enzima L-arginina:glicina amidinotransferase(1).
Após ser transportado para o fígado e pâncreas), o ácido guanidinoacético é convertido em creatina pela enzima guanidinoacetato N-metiltransferase, numa reação em que a S-adenosil metionina doa um grupo metilo ao ácido guanidoacético, gerando creatina e S-adenosil homocisteína.(1, 2)
A creatina pode depois ser fosforilada pela enzima creatina quinase, formando assim fosfocreatina que pode ser usada no músculo esquelético e cerebral para doar, de forma rápida, grupos fosfato ao ADP, convertendo-o de novo em ATP(2).
Quando ingerido em forma de suplemento, o ácido guanidoacético é absorvido na sua quase totalidade pelo trato digestivo(3), entra na circulação e também pode ser absorvido e convertido em creatina pelos tecidos muscular e nervoso(2, 4).
Durante muito tempo, este composto foi considerado pouco interessante e uma fonte celular de energia pouco adequada(2) mas investigações recentes revelam que poderá ser um suplemento ergogénico especialmente relevante para atletas.
Na verdade, um estudo verificou que a suplementação com ácido guanidinoacético, durante 6 semanas aumenta a força e a resistência muscular em indivíduos saudáveis, mesmo com uma dose baixa, de apenas 1,2 gramas por dia(5).
O estudo(4)
Este estudo mais recente foi inovador porque foi o primeiro a comparar a suplementação com ácido guanidoacético com a suplementação com creatina(4).
Os investigadores recrutaram 5 voluntários jovens e saudáveis que numa ocasião ingeriram 3 gramas de ácido acetoacético e noutra ingeriram 3,4 gramas de creatina.
Resultados
Tal como pode ver na tabela acima, os níveis de creatina nos tecidos muscular esquelético e cerebral foram 3.3 vezes mais elevados com a suplementação com ácido guanidinoacético em comparação com a suplementação com creatina.
Isto poderá dever-se à existência de um maior número de mecanismos de transporte (incluindo difusão passiva) de ácido acetoacético nos tecidos muscular e cerebral, e a sua completa conversão em creatina.
Em comparação a capacidade de transporte e portanto de captação de creatina nesses tecidos é significativamente mais limitada.
Citando os investigadores:
Verificou-se que o ácido guanidinoacético é mais eficiente do que a creatina em aumentar a disponibilidade de creatina muscular e cerebral em humanos.”
O nosso estudo providenciou evidência preliminar de que a suplementação durante 4 semanas com 3 gramas por dia de ácido guanidinoacético é superior à creatina em termos de facilitar a bioenergética celular, tal como avaliado pelos níveis de creatina do cérebro e do tecido muscular esquelético.
Infelizmente, a suplementação com ácido guanidinoacético também eleva, de forma moderada, os níveis de homocisteína, um composto que é atualmente considerado um factor de risco independente para as doenças cardiovasculares, fracturas osteoporóticas e disfunção renal(4).
Segurança
Pelos estudos realizados até hoje ainda não foi possível concluir que a suplementação com ácido guanidinoacético seja livre de efeitos secundários para a saúde e por esse motivo não é ainda recomendada a sua suplementação, principalmente devido à provável elevação dos níveis de homocisteína(1).
Em teoria, a adição de dadores de grupos metilo ou do aminácido serina à suplementação com ácido acetoacético poderia suprimir esse aumento dos níveis de homocisteína(1), mas é necessário realizar estudos que comprovem isso.
Outro motivo de preocupação com a suplementação com ácido acetoacético tem a ver com a possibilidade deste se acumular em níveis anormais no cérebro. No entanto, alguns investigadores afirmam que isso é extremamente improvável devido a limitações dos sistemas de transporte(4).
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- Ostojic SM, Niess B, Stojanovic M, Obrenovic M. Creatine Metabolism and Safety Profiles after Six-Week Oral Guanidinoacetic Acid Administration in Healthy Humans. International Journal of Medical Sciences. 2013; 10(2):141-47.
- Ostojic SM. Cellular bioenergetics of guanidinoacetic acid: the role of mitochondria. Journal of bioenergetics and biomembranes. 2015; 47(5):369-72.
- Tossenberger J, Rademacher M, Németh K, Halas V, Lemme A. Digestibility and metabolism of dietary guanidino acetic acid fed to broilers. Poultry Science. 2016; 95(9):2058-67.
- Ostojic SM, Ostojic J, Drid P, Vranes M. Guanidinoacetic acid versus creatine for improved brain and muscle creatine levels: a superiority pilot trial in healthy men. Applied physiology, nutrition, and metabolism = Physiologie appliquee, nutrition et metabolisme. 2016; 41(9):1005-7.
- Ostojic SM, Stojanovic MD, Hoffman JR. Six-Week Oral Guanidinoacetic Acid Administration Improves Muscular Performance in Healthy Volunteers. Journal of investigative medicine : the official publication of the American Federation for Clinical Research. 2015; 63(8):942-6.
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