Avançar para o conteúdo principal

A Proteína Animal é Mais Anabólica do que a Vegetal

A maioria dos fisiculturistas, praticantes de musculação e atletas de força já sabiam que a proteína de origem animal é mais anabólica do que a proteína de origem vegetal, mas é sempre bom ver a ciência a confirmar as nossas crenças.

Hoje em dia temos evidências científicas que provam que uma dieta em que a maioria da proteína é de origem animal, proporciona melhores resultados em termos de aumento da força, da massa muscular e também em termos de perda de gordura corporal.

Geralmente, a proteína de origem animal contem todos os aminoácidos essenciais nas quantidades adequadas, enquanto a proteína de origem vegetal normalmente não tem as quantidades suficientes de um ou mais aminoácidos essenciais (1).

Nesse sentido, já foram realizados alguns estudos que compraram uma dieta vegetariana, que incluía ovos e lacticínios mas não carne, com uma dieta omnívora.

Como exemplo, os investigadores deste estudo (2) submeteram os voluntários a um programa de treino de musculação que teve a duração de 12 semanas e verificaram que o grupo omnívoro obteve maiores ganhos de massa muscular e perdeu mais gordura do que o grupo vegetariano.

Os investigadores afirmaram:

Estes resultados indicam que a uma dieta em que a maioria da sua proteína seja proveniente da carne é mais eficiente para suportar os objetivos de um programa de treino de musculação do que uma dieta vegetariana.

Noutro estudo, os investigadores compararam a ingestão de leite magro com uma bebida de soja com a mesma quantidade de proteína e de carboidratos em 56 voluntários jovens que seguiram um programa de treino de musculação durante 12 semanas (3).

Os resultados indicaram que os voluntários que ingeriram o leite obtiveram uma maior síntese de proteína e perderam mais gordura do que o grupo que ingeriu a bebida de soja.

Os investigadores afirmaram:

Nós concluímos que o consumo crónico de leite depois do exercício promove uma maior hipertrofia durante os estágios iniciais de treino de musculação em principiantes, em comparação com o consumo de soja ou de carboidratos.

Nós também observamos uma maior redução da massa corporal gorda, associada ao consumo crónico de leite no pós-treino.

Outro aspeto importante da proteína do leite em comparação com a soja, é que a proteína do leite contem uma quantidade 120% mais elevada de BCAAs do que a proteína de soja (4). Os estudos demonstram que os BCAAs são preferencialmente utilizados pelo tecido muscular esquelético (5).

O leite, e especialmente o soro de leite (whey), é especialmente rico em leucina em comparação com outras proteína. A leucina está associada a um aumento da síntese de proteína muscular quando consumida num contexto de um programa de treino de musculação (6, 7).

Outro estudo verificou que o aumento da ingestão de carne vermelha (+ 200 gramas por dia) promove o aumento da massa muscular magra, mesmo em indivíduos que não praticam exercício físico e não provoca efeitos secundários adversos na saúde (8).

Os investigadores afirmaram:

O consumo adicional de carne poderá ser eficiente para aumentar a massa muscular magra, sem mudanças na massa gorda.

Ainda outro estudo verificou que uma dieta cuja fonte principal de proteína seja a ervilha (que é pobre em metionina), provoca uma redução dos níveis de insulina, IGF-1, e de T4 no plasma do sangue, bem como uma diminuição e uma menor quantidade de massa muscular em comparação com uma dieta que continha caseína como fonte principal de proteína (9).

Estas descobertas também são suportadas por Volpi e colegas, que verificaram que a ingestão de 19 gramas de aminoácidos essenciais aumenta tanto a síntese de proteína como uma mistura de 18 gramas de aminoácidos essenciais com a ingestão adicional de 22 aminoácidos não essenciais (10).

Portanto, as evidências sugerem que a síntese de proteína está diretamente relacionada com o conteúdo de aminoácidos essenciais fornecidos por uma determinada fonte de proteína.

Conclusão

A qualidade de qualquer proteína está dependente da quantidade de aminoácidos essenciais presentes numa determinada fonte de proteína. Tipicamente, a proteína de melhor qualidade é a proveniente de produtos animais, como a que está presente na carne, peixe, ovos e lacticínios (11).

Neste contexto, para os vegetarianos, especialmente aqueles que para além de carne e peixe também não ingerem ovos nem lacticínicos, poderá ser recomendável a suplementação com um suplemento de aminoácidos, preferencialmente um que seja rico em BCAAs, tal como a Leucina.

Também é importante que os vegetarianos consumam proteínas complementares para aumentar a qualidade da proteína. As proteínas complementares são proteínas incompletas (que não possuem ou são deficientes em um ou mais aminoácidos essenciais) que quando combinadas, proporcionam um conjunto completo de aminoácidos essenciais.

As combinações mais comuns são de cereais com leguminosas (como arroz com feijão). Os cereais têm pouca Lisina enquanto as leguminosas têm bastante Lisina mas têm falta de Metionina (12). 

Para os atletas omnívoros, a qualidade da proteína de uma dieta pode ser melhorada através do consumo de várias fontes de proteína, em vez da ingestão de proteína de apenas uma fonte alimentar (13).

Esse conceito também já é utilizado em várias formulações de marcas de suplementos. Alguns suplementos de proteína combinam proteína de ovo com proteína whey (soro de leite) e caseína.

Concluindo, a qualidade de uma determinada proteína está dependente da disponibilidade de aminoácidos essenciais dessa mesma proteína.

Normalmente são os produtos de origem animal que contêm a proteína de qualidade mais elevada, e essa qualidade aumenta ainda mais quando se combinam proteínas de várias fontes (14).

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Quanta proteína é possível absorver por refeição?

Dentre a série de tópicos relativamente controversos englobados no mundo da nutrição temos a questão da quantidade de proteína que o corpo humano consegue absorver no seguimento de uma dada refeição. Relacionado com a mesma temática, temos a questão da definição da quantidade de proteína que idealmente se deve ingerir após a execução de um treino resistido, com vista a maximizar a síntese de proteína muscular. Estudos publicados até há poucos anos concluíram que a ingestão de 20 a 25 g de proteína de boa qualidade (whey, proteína do leite, ou proteína de ovo) após um treino de musculação direcionado à musculatura dos membros inferiores seria o suficiente para maximizar a síntese de proteína muscular em adultos jovens e saudáveis, sendo que em doses superiores os aminoácidos “excedentários” seriam simplesmente oxidados. 1,2   Entretanto, em 2016, os autores Macnaughton et al. 3 verificaram que a suplementação com 40 g de proteína whey após uma sessão de treino de musculação de corpo i

Os Suplementos Termogénicos Funcionam?

A obesidade encontra-se classificada como uma doença crónica cuja prevalência tem vindo a aumentar ao ponto de atualmente ser considerada uma pandemia. ¹ Atualmente, verifica-se que a maioria da população europeia (60%) encontra-se na categoria de pré-obesidade, ou obesidade. ¹ Em Portugal o cenário é relativamente similar, com 57,1% dos indivíduos a apresentar um índice de massa corporal ≥25 kg/m². ²   Logicamente, esta população numerosa representa um mercado apetecível para as empresas envolvidas na produção e/ou comercialização de suplementos alimentares, que ambicionem aumentar as suas vendas.  Do conjunto de suplementos direcionados para a perda de peso/gordura, destacam-se os termogénicos, os quais, supostamente, promovem um aumento da lipólise através de um aumento do metabolismo, induzido por determinados compostos presentes nesses suplementos.  Mas será que os suplementos termogénicos efetivamente facilitam a perda de peso ou de gordura em indivíduos pré-obesos ou obesos?  Cl

É Melhor Perder Peso de Forma Rápida ou Lenta?

A perda de gordura pode proporcionar vários benefícios para a saúde daqueles que têm excesso de peso. ¹⁻² e é uma necessidade imperativa para atletas de determinados desportos e para aqueles que participam em competições de culturismo e similares.³ No entanto, independentemente do ritmo a que se perde peso, há uma série de consequências negativas que são praticamente impossíveis de evitar. Esses efeitos indesejáveis incluem a diminuição da taxa metabólica basal em repouso,⁴ dos níveis de testosterona,⁵ perda de massa magra,⁶ e diminuição da força muscular.⁷⁻⁸ De forma a minimizar esses efeitos negativos, são muitos aqueles que evitam as dietas mais drásticas, do tipo yo-yo e que, em vez disso, aconselham uma perda de peso lenta, por exemplo, de 0,5 kg de peso corporal, por semana.³ O que diz a ciência? Já foram conduzidos variados estudos que procuraram determinar qual a velocidade de perda de peso que melhor preserva a taxa metabólica, a massa magra, bem como os níveis de testosterona