Avançar para o conteúdo principal

A cafeína reduz a performance em ambientes quentes?

Por se ter verificado que a cafeína tem um efeito termogénico1 e a capacidade de induzir diurese de baixo grau quando em repouso,2 foi sugerido que a suplementação com cafeína poderia ter um efeito negativo na performance do exercício realizado em ambientes quentes.3

Apesar de algumas investigações terem detetado um aumento da temperatura central após a ingestão de cafeína durante o exercício no calor, o aumento durante o exercício foi similar às condições de placebo.4-6

Por outro lado, vários estudos mostraram que a ingestão de 3-9 mg/kg (∼250–700 mg) de cafeína, não influencia a temperatura central durante o exercício prolongado num ambiente normal,7-10 ou quente.8,11,12

Para além disso, a suplementação com cafeína, num contexto de prática de exercício em ambientes quentes também não influencia outras variáveis como a circulação sanguínea do antebraço,11 a taxa de sudação ou o equilíbrio hidro-eletrolítico2,8,11-13, a produção de urina2,8,13 ou o armazenamento de calor5.

Para além disso, o consumo crónico de cafeína também não parece alterar o equilíbrio hidro-eletrolítico ou o estado de hidratação.12,14,15

Também foram realizados 4 estudos que procuraram averiguar a eficácia da suplementação com cafeína em ambientes quentes, sendo que nenhum deles observou efeitos negativos na performance.8,16-18

A cafeína melhora a performance em ambientes quentes?

Foi demonstrado que a ingestão de cafeína aumenta o pico de potência no ciclismo ao logo de 2 h de exercício num ambiente quente e previne a redução da força de contração voluntária máxima e a ativação de unidades motoras observada após o exercício.19

Até à data, apenas um estudo examinou os efeitos ergogénicos da cafeína em ambos ambientes frio e quente com os mesmos participantes bem hidratados.8 Nessas condições, embora o calor tenha causado uma diminuição da performance, o efeito ergogénico da dose de 3 mg/kg de peso corporal foi similar em ambas as condições.8

Assim sendo, a suplementação com cafeína também parece proporcionar efeitos ergogénicos em ambientes quentes, podendo minimizar o aumento da dor muscular causada pelo ambiente quente, o que não acontece num ambiente frio.20

Conclusão

A evidência atual não suporta a noção de que a suplementação com cafeína não proporciona efeitos ergogénicos em ambientes quentes e/ou que possa ter efeitos negativos na performance, nessas condições.3

Segundo um artigo de revisão publicado em 2016, o uso de cafeína como ajuda ergogénica não deve ser restringida durante a exposição a ambientes quentes devido a receios de aumento da perda de fluídos e taxas de mais elevadas de armazenamento de calor.3

Pelo contrário, vários estudos sugerem que a cafeína é um suplemento que proporciona efeitos ergogénicos mesmo em condições de temperatura ambiental elevada.8,19,20

➤ Mostrar/Ocultar Referências!
  1. Poehlman ET, Despres JP, Bessette H, Fontaine E, Tremblay A, Bouchard C. Influence of caffeine on the resting metabolic rate of exercise-trained and inactive subjects. Medicine and science in sports and exercise. 1985;17(6):689-694.
  2. Wemple RD, Lamb DR, McKeever KH. Caffeine vs caffeine-free sports drinks: effects on urine production at rest and during prolonged exercise. International journal of sports medicine. 1997;18(1):40-46.
  3. McLellan TM, Caldwell JA, Lieberman HR. A review of caffeine's effects on cognitive, physical and occupational performance. Neuroscience and biobehavioral reviews. 2016;71:294-312.
  4. Cheuvront SN, Ely BR, Kenefick RW, Michniak-Kohn BB, Rood JC, Sawka MN. No effect of nutritional adenosine receptor antagonists on exercise performance in the heat. American journal of physiology Regulatory, integrative and comparative physiology. 2009;296(2):R394-401.
  5. Ely BR, Ely MR, Cheuvront SN. Marginal effects of a large caffeine dose on heat balance during exercise-heat stress. International journal of sport nutrition and exercise metabolism. 2011;21(1):65-70.
  6. Kim TW, Shin YO, Lee JB, Min YK, Yang HM. Caffeine increases sweating sensitivity via changes in sudomotor activity during physical loading. Journal of medicinal food. 2011;14(11):1448-1455.
  7. Dunagan N, Greenleaf JE, Cisar CJ. Thermoregulatory effects of caffeine ingestion during submaximal exercise in men. Aviation, space, and environmental medicine. 1998;69(12):1178-1181.
  8. Ganio MS, Johnson EC, Klau JF, et al. Effect of ambient temperature on caffeine ergogenicity during endurance exercise. European journal of applied physiology. 2011;111(6):1135-1146.
  9. Falk B, Burstein R, Rosenblum J, Shapiro Y, Zylber-Katz E, Bashan N. Effects of caffeine ingestion on body fluid balance and thermoregulation during exercise. Canadian journal of physiology and pharmacology. 1990;68(7):889-892.
  10. Wells CL, Schrader TA, Stern JR, Krahenbuhl GS. Physiological responses to a 20-mile run under three fluid replacement treatments. Medicine and science in sports and exercise. 1985;17(3):364-369.
  11. Del Coso J, Estevez E, Mora-Rodriguez R. Caffeine during exercise in the heat: thermoregulation and fluid-electrolyte balance. Medicine and science in sports and exercise. 2009;41(1):164-173.
  12. Roti MW, Casa DJ, Pumerantz AC, et al. Thermoregulatory responses to exercise in the heat: chronic caffeine intake has no effect. Aviation, space, and environmental medicine. 2006;77(2):124-129.
  13. Millard-Stafford ML, Cureton KJ, Wingo JE, Trilk J, Warren GL, Buyckx M. Hydration during exercise in warm, humid conditions: effect of a caffeinated sports drink. International journal of sport nutrition and exercise metabolism. 2007;17(2):163-177.
  14. Armstrong LE. Caffeine, body fluid-electrolyte balance, and exercise performance. International journal of sport nutrition and exercise metabolism. 2002;12(2):189-206.
  15. Maughan RJ, Griffin J. Caffeine ingestion and fluid balance: a review. Journal of human nutrition and dietetics : the official journal of the British Dietetic Association. 2003;16(6):411-420.
  16. Cohen BS, Nelson AG, Prevost MC, Thompson GD, Marx BD, Morris GS. Effects of caffeine ingestion on endurance racing in heat and humidity. European journal of applied physiology and occupational physiology. 1996;73(3-4):358-363.
  17. Suvi S, Timpmann S, Tamm M, Aedma M, Kreegipuu K, Oopik V. Effects of caffeine on endurance capacity and psychological state in young females and males exercising in the heat. Applied physiology, nutrition, and metabolism = Physiologie appliquee, nutrition et metabolisme. 2017;42(1):68-76.
  18. Beaumont RE, James LJ. Effect of a moderate caffeine dose on endurance cycle performance and thermoregulation during prolonged exercise in the heat. J Sci Med Sport. 2017;20(11):1024-1028.
  19. Del Coso J, Estevez E, Mora-Rodriguez R. Caffeine effects on short-term performance during prolonged exercise in the heat. Medicine and science in sports and exercise. 2008;40(4):744-751.
  20. Ganio MS, Johnson EC, Lopez RM, et al. Caffeine lowers muscle pain during exercise in hot but not cool environments. Physiology & behavior. 2011;102(3-4):429-435.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Quanta proteína é possível absorver por refeição?

Dentre a série de tópicos relativamente controversos englobados no mundo da nutrição temos a questão da quantidade de proteína que o corpo humano consegue absorver no seguimento de uma dada refeição. Relacionado com a mesma temática, temos a questão da definição da quantidade de proteína que idealmente se deve ingerir após a execução de um treino resistido, com vista a maximizar a síntese de proteína muscular. Estudos publicados até há poucos anos concluíram que a ingestão de 20 a 25 g de proteína de boa qualidade (whey, proteína do leite, ou proteína de ovo) após um treino de musculação direcionado à musculatura dos membros inferiores seria o suficiente para maximizar a síntese de proteína muscular em adultos jovens e saudáveis, sendo que em doses superiores os aminoácidos “excedentários” seriam simplesmente oxidados. 1,2   Entretanto, em 2016, os autores Macnaughton et al. 3 verificaram que a suplementação com 40 g de proteína whey após uma sessão de treino de musculação de corpo i

Os Suplementos Termogénicos Funcionam?

A obesidade encontra-se classificada como uma doença crónica cuja prevalência tem vindo a aumentar ao ponto de atualmente ser considerada uma pandemia. ¹ Atualmente, verifica-se que a maioria da população europeia (60%) encontra-se na categoria de pré-obesidade, ou obesidade. ¹ Em Portugal o cenário é relativamente similar, com 57,1% dos indivíduos a apresentar um índice de massa corporal ≥25 kg/m². ²   Logicamente, esta população numerosa representa um mercado apetecível para as empresas envolvidas na produção e/ou comercialização de suplementos alimentares, que ambicionem aumentar as suas vendas.  Do conjunto de suplementos direcionados para a perda de peso/gordura, destacam-se os termogénicos, os quais, supostamente, promovem um aumento da lipólise através de um aumento do metabolismo, induzido por determinados compostos presentes nesses suplementos.  Mas será que os suplementos termogénicos efetivamente facilitam a perda de peso ou de gordura em indivíduos pré-obesos ou obesos?  Cl

É Melhor Perder Peso de Forma Rápida ou Lenta?

A perda de gordura pode proporcionar vários benefícios para a saúde daqueles que têm excesso de peso. ¹⁻² e é uma necessidade imperativa para atletas de determinados desportos e para aqueles que participam em competições de culturismo e similares.³ No entanto, independentemente do ritmo a que se perde peso, há uma série de consequências negativas que são praticamente impossíveis de evitar. Esses efeitos indesejáveis incluem a diminuição da taxa metabólica basal em repouso,⁴ dos níveis de testosterona,⁵ perda de massa magra,⁶ e diminuição da força muscular.⁷⁻⁸ De forma a minimizar esses efeitos negativos, são muitos aqueles que evitam as dietas mais drásticas, do tipo yo-yo e que, em vez disso, aconselham uma perda de peso lenta, por exemplo, de 0,5 kg de peso corporal, por semana.³ O que diz a ciência? Já foram conduzidos variados estudos que procuraram determinar qual a velocidade de perda de peso que melhor preserva a taxa metabólica, a massa magra, bem como os níveis de testosterona