Frequentemente, os praticantes de musculação e culturistas afirmam ter sérias dificuldades em aumentar a força e a massa muscular das panturrilhas (gastrocnémios e sóleo).(1,2)
A literatura cientifica parece oferecer suporte a esse tipo de afirmação, uma vez que vários estudos reportaram ganhos de força e um nível de hipertrofia muscular nos músculos das panturrilhas muito inferiores ao dos músculos das coxas ou da parte superior dos braços.(3-9)
Na verdade, alguns desses estudos não observaram quaisquer aumentos do tamanho das panturrilhas4 ou ganhos de força nesses músculos após várias semanas de treino.)6)
Um estudo demonstrou que a contração ativa dos músculos das panturrilhas (40% da contração voluntária máxima) resultou num aumento da síntese de proteína muscular do sóleo,10 mas esse aumento foi relativamente pequeno em comparação com os valores obtidos em estudos que testaram outros grupos musculares (bíceps e quadríceps).(11-19)
Num outro trabalho verificou-se que o aumento da taxa de síntese de proteína muscular após um episódio de treino resistido foi significativamente inferior comparativamente aos aumentos observados nos músculos quadríceps, em outros estudos.(1)
Estes resultados sugerem que a relativa incapacidade de potenciar a síntese de proteína muscular do músculo sóleo após um treino resistido poderá explicar, pelo menos em parte, a constatação geral que os músculos das panturrilhas são relativamente difíceis de hipertrofiar com o treino resistido crónico.(1)
Mais especificamente, verifica-se que as fibras musculares tipo I constituem entre 70 a 73%(20,21) do músculo sóleo, 50% dos gastrocnémios,20 32 a 48% do vasto lateral,(20,22) 47% do vasto intermédio,(20) 39% do tríceps braquial(21) e 56% do músculo deltoide.(22)
Vários estudos sugerem que as fibras tipo I são menos responsivas ao treino resistido (hipertrofiam menos) do que as fibras do tipo II,(1,22,23) o que poderá ajudar a explicar a menor taxa de síntese de proteína muscular após um treino resistido nos músculos das panturrilhas, comparativamente a outros grupos musculares.(1)
Para além disso, um estudo detetou uma maior % de fibras de contração lenta nos músculos vasto lateral e deltoide, em atletas de endurance, em comparação com atletas de força(22) o que significa que o tipo de desporto ou atividade praticada também pode influenciar a composição de fibras de um determinado grupo muscular.(22)
Isso sugere que, quando o músculo é treinado de forma regular, este adapta-se reduzindo a resposta de síntese de proteína muscular a seguir aos treinos resistidos.(1)
Dado o nível de atividade muscular relativamente elevado a que os músculos das panturrilhas são sujeitos durante as atividades típicas do quotidiano (permanecer em pé, caminhar),(1,25,26) este grupo muscular poderia ser considerado cronicamente treinado, mesmo em indivíduos que não treinam as suas panturrilhas.(1)
Pontos-chave:
A literatura cientifica parece oferecer suporte a esse tipo de afirmação, uma vez que vários estudos reportaram ganhos de força e um nível de hipertrofia muscular nos músculos das panturrilhas muito inferiores ao dos músculos das coxas ou da parte superior dos braços.(3-9)
Na verdade, alguns desses estudos não observaram quaisquer aumentos do tamanho das panturrilhas4 ou ganhos de força nesses músculos após várias semanas de treino.)6)
Um estudo demonstrou que a contração ativa dos músculos das panturrilhas (40% da contração voluntária máxima) resultou num aumento da síntese de proteína muscular do sóleo,10 mas esse aumento foi relativamente pequeno em comparação com os valores obtidos em estudos que testaram outros grupos musculares (bíceps e quadríceps).(11-19)
Num outro trabalho verificou-se que o aumento da taxa de síntese de proteína muscular após um episódio de treino resistido foi significativamente inferior comparativamente aos aumentos observados nos músculos quadríceps, em outros estudos.(1)
Estes resultados sugerem que a relativa incapacidade de potenciar a síntese de proteína muscular do músculo sóleo após um treino resistido poderá explicar, pelo menos em parte, a constatação geral que os músculos das panturrilhas são relativamente difíceis de hipertrofiar com o treino resistido crónico.(1)
Tipo de fibras musculares
Os músculos dos gémeos (panturrilhas) são constituídos por uma maior percentagem de fibras de contração lenta (tipo I) comparativamente aos músculos quadríceps e a vários grupos musculares do tronco.(20,21,22)Mais especificamente, verifica-se que as fibras musculares tipo I constituem entre 70 a 73%(20,21) do músculo sóleo, 50% dos gastrocnémios,20 32 a 48% do vasto lateral,(20,22) 47% do vasto intermédio,(20) 39% do tríceps braquial(21) e 56% do músculo deltoide.(22)
Vários estudos sugerem que as fibras tipo I são menos responsivas ao treino resistido (hipertrofiam menos) do que as fibras do tipo II,(1,22,23) o que poderá ajudar a explicar a menor taxa de síntese de proteína muscular após um treino resistido nos músculos das panturrilhas, comparativamente a outros grupos musculares.(1)
Para além disso, um estudo detetou uma maior % de fibras de contração lenta nos músculos vasto lateral e deltoide, em atletas de endurance, em comparação com atletas de força(22) o que significa que o tipo de desporto ou atividade praticada também pode influenciar a composição de fibras de um determinado grupo muscular.(22)
Gémeos, um grupo muscular cronicamente treinado?
Alguns estudos verificaram que a resposta de síntese de proteína muscular a um episódio de exercício resistido é atenuada em comparação com indivíduos com menor experiência de treino ou destreinados.(11,15,17,24)Isso sugere que, quando o músculo é treinado de forma regular, este adapta-se reduzindo a resposta de síntese de proteína muscular a seguir aos treinos resistidos.(1)
Dado o nível de atividade muscular relativamente elevado a que os músculos das panturrilhas são sujeitos durante as atividades típicas do quotidiano (permanecer em pé, caminhar),(1,25,26) este grupo muscular poderia ser considerado cronicamente treinado, mesmo em indivíduos que não treinam as suas panturrilhas.(1)
Pontos-chave:
- A taxa de síntese de proteína muscular do músculo sóleo após um episódio de treino resistido é significativamente mais baixa comparativamente a outros grupos musculares (quadríceps e bíceps braquial).(1)
- Os músculos cronicamente treinados têm uma taxa de síntese de proteína muscular diminuída.(11,15,17,24) e as panturrilhas poderão ser consideradas músculos cronicamente treinados devido a serem recrutados com frequência ao longo do dia.(1,25,26)
- Os gartrocnémios(20) e o sóleo(20,21) são músculos constituídos por uma grande percentagem de fibras musculares tipo I, as quais têm um menor potencial de hipertrofia do que as fibras musculares tipo II.(22,23)
➤ Mostrar/Ocultar Referências!
- Trappe TA, Raue U, Tesch PA. Human soleus muscle protein synthesis following resistance exercise. Acta physiologica Scandinavica. 2004;182(2):189-196.
- Schwarzenegger A, Dobbins B. The new encyclopedia of modern bodybuilding. Simon and Schuster; 1998.
- Young K, McDonagh MJ, Davies CT. The effects of two forms of isometric training on the mechanical properties of the triceps surae in man. Pflugers Archiv : European journal of physiology. 1985;405(4):384-388.
- Weiss LW, Clark FC, Howard DG. Effects of heavy-resistance triceps surae muscle training on strength and muscularity of men and women. Physical therapy. 1988;68(2):208-213.
- Alway SE, MacDougall JD, Sale DG. Contractile adaptations in the human triceps surae after isometric exercise. Journal of applied physiology (Bethesda, Md : 1985). 1989;66(6):2725-2732.
- Porter MM, Vandervoort AA. Standing strength training of the ankle plantar and dorsiflexors in older women, using concentric and eccentric contractions. European journal of applied physiology and occupational physiology. 1997;76(1):62-68.
- Connelly DM, Vandervoort AA. Effects of isokinetic strength training on concentric and eccentric torque development in the ankle dorsiflexors of older adults. The journals of gerontology Series A, Biological sciences and medical sciences. 2000;55(10):B465-472.
- Krishnathasan D, Vandervoort AA. Ankle plantar flexion strength in resistance and endurance trained middle-aged adults. Canadian journal of applied physiology = Revue canadienne de physiologie appliquee. 2002;27(5):479-490.
- Ferri A, Scaglioni G, Pousson M, Capodaglio P, Van Hoecke J, Narici MV. Strength and power changes of the human plantar flexors and knee extensors in response to resistance training in old age. Acta physiologica Scandinavica. 2003;177(1):69-78.
- Fowles JR, MacDougall JD, Tarnopolsky MA, Sale DG, Roy BD, Yarasheski KE. The effects of acute passive stretch on muscle protein synthesis in humans. Canadian journal of applied physiology = Revue canadienne de physiologie appliquee. 2000;25(3):165-180.
- Chesley A, MacDougall JD, Tarnopolsky MA, Atkinson SA, Smith K. Changes in human muscle protein synthesis after resistance exercise. Journal of applied physiology (Bethesda, Md : 1985). 1992;73(4):1383-1388.
- Biolo G, Maggi SP, Williams BD, Tipton KD, Wolfe RR. Increased rates of muscle protein turnover and amino acid transport after resistance exercise in humans. The American journal of physiology. 1995;268(3 Pt 1):E514-520.
- Biolo G, Tipton KD, Klein S, Wolfe RR. An abundant supply of amino acids enhances the metabolic effect of exercise on muscle protein. The American journal of physiology. 1997;273(1 Pt 1):E122-129.
- Biolo G, Williams BD, Fleming RY, Wolfe RR. Insulin action on muscle protein kinetics and amino acid transport during recovery after resistance exercise. Diabetes. 1999;48(5):949-957.
- MacDougall JD, Gibala MJ, Tarnopolsky MA, MacDonald JR, Interisano SA, Yarasheski KE. The time course for elevated muscle protein synthesis following heavy resistance exercise. Canadian journal of applied physiology = Revue canadienne de physiologie appliquee. 1995;20(4):480-486.
- Phillips SM, Tipton KD, Aarsland A, Wolf SE, Wolfe RR. Mixed muscle protein synthesis and breakdown after resistance exercise in humans. The American journal of physiology. 1997;273(1 Pt 1):E99-107.
- Phillips SM, Tipton KD, Ferrando AA, Wolfe RR. Resistance training reduces the acute exercise-induced increase in muscle protein turnover. The American journal of physiology. 1999;276(1 Pt 1):E118-124.
- Gibala MJ, Interisano SA, Tarnopolsky MA, et al. Myofibrillar disruption following acute concentric and eccentric resistance exercise in strength-trained men. Canadian journal of physiology and pharmacology. 2000;78(8):656-661.
- Trappe TA, White F, Lambert CP, Cesar D, Hellerstein M, Evans WJ. Effect of ibuprofen and acetaminophen on postexercise muscle protein synthesis. American journal of physiology Endocrinology and metabolism. 2002;282(3):E551-556.
- Edgerton VR, Smith JL, Simpson DR. Muscle fibre type populations of human leg muscles. The Histochemical journal. 1975;7(3):259-266.
- Sjogaard G. Capillary supply and cross-sectional area of slow and fast twitch muscle fibres in man. Histochemistry. 1982;76(4):547-555.
- Tesch PA, Karlsson J. Muscle fiber types and size in trained and untrained muscles of elite athletes. Journal of applied physiology (Bethesda, Md : 1985). 1985;59(6):1716-1720.
- Hather BM, Tesch PA, Buchanan P, Dudley GA. Influence of eccentric actions on skeletal muscle adaptations to resistance training. Acta physiologica Scandinavica. 1991;143(2):177-185.
- Phillips SM, Parise G, Roy BD, Tipton KD, Wolfe RR, Tamopolsky MA. Resistance-training-induced adaptations in skeletal muscle protein turnover in the fed state. Canadian journal of physiology and pharmacology. 2002;80(11):1045-1053.
- Ericson MO, Nisell R, Ekholm J. Quantified electromyography of lower-limb muscles during level walking. Scandinavian journal of rehabilitation medicine. 1986;18(4):159-163.
- Winter DA, Yack HJ. EMG profiles during normal human walking: stride-to-stride and inter-subject variability. Electroencephalography and clinical neurophysiology. 1987;67(5):402-411.
Comentários
Enviar um comentário