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Os Perigos do Clembuterol

Sempre que a temperatura começa a aumentar e à medida que o verão se aproxima, há várias coisas que podemos esperar, e uma delas é o aumento da procura de suplementos dietéticos e/ou fármacos, que ajudem a perder com maior rapidez o excesso de gordura que se foi acumulando ao longo dos meses e anos.

Uma dessas substâncias, a que as pessoas recorrem com maior frequência, especialmente aquelas que frequentam os ginásios, é o clembuterol, que, apesar de ser um fármaco controlado, ou proibido, parece estar a tornar-se cada vez mais popular (1, 2).

O que é o clembuterol?

O clembuterol é um fármaco comercializado em alguns países, nos quais é usado como descongestionante e broncodilatador, sobretudo no tratamento de problemas respiratórios, tais como a asma.

Por estranho que isso possa parecer a muitos, e apesar de poder provocar um aumento do ritmo metabólico, o clembuterol não foi desenvolvido para tratar o excesso de peso/obesidade (3).

Durante vários anos foi usado pelos criadores de animais para aumentar o peso e o rácio de carne para gordura dos animais para abate, mas atualmente o seu uso está proibido na Europa, Estados Unidos e na China (4, 5, 6).

Apesar de poder promover um aumento da massa muscular e perda de tecido adiposo subcutâneo em animais, não foram realizados estudos que comprovem esses efeitos em seres humanos e não podemos extrapolar os resultados obtidos em animais (7, 8).

A proibição do seu uso na produção de carne está, em parte, relacionada com o facto de já terem ocorrido vários casos de intoxicação após ingestão de partes de animais (sobretudo fígado) aos quais tinham sido administrado clembuterol.

Isso já aconteceu em Portugal, Espanha, Itália e os sintomas mais frequentes foram tremores intensos dos membros, taquicardia, náuseas, dores de cabeça e tonturas, sendo que várias pessoas tiveram mesmo que ser hospitalizadas (9, 10, 11, 12).

É também uma substância proibida em quase todas as modalidades desportivas (doping) e a sua ingestão também já conduziu à suspensão de vários atletas (13, 14, 15).
Os perigos do clembuterol

Sendo um potente estimulante do sistema nervoso simpático, pode-se esperar alguns efeitos secundários similares aos das catecolaminas, como a adrenalina e a noradrenalina (16, 17, 18).

Esses efeitos secundários incluem:
  • Nervosismo
  • Tremores
  • Palpitações
  • Vómitos
  • Taquicardia
  • Aumento da tensão arterial
  • Dores de cabeça
E ainda vários outros como:

Insónias: Devido às propriedades estimulantes do clembuterol e por ter uma meia vida longa (cerca de 26 horas), é muito provável que a sua ingestão provoque dificuldades em dormir (19).

Cãibras: A ingestão de clembuterol pode conduzir a uma maior perda de potássio e de taurina, o que poderá explicar a maior prevalência de câibras após a ingestão deste composto (20, 21, 22). A perda de taurina é especialmente preocupante, por ter sido demonstrado que tem efeitos protetores no coração.

Problemas cardiovasculares: A ingestão de clembuterol poderá ter uma influência extremamente negativa no sistema cardiovascular. Algumas investigações indicam que o clembuterol tem efeitos tóxicos e pode provocar danos permanentes no coração, mesmo quando ingerido em quantidades terapêuticas (23, 24). Verificou-se ainda que o clenbuterol provoca uma hipertrofia do ventrículo esquerdo do coração e ao mesmo tempo uma redução da capacidade de resistência (25).

Enfarte do miocárdio: Já ocorreram vários casos de infarto do miocárdio e de outras complicações cardiovasculares sérias após a ingestão de clembuterol. Vários desses casos ocorreram em praticantes de musculação (26, 27, 28, 29, 30).

Conclusão

Como pode ver, o clembuterol não é uma substância inócua que possa ser ingerida sem preocupações. A sua ingestão está associada a um conjunto de efeitos secundários, principalmente ao nível da saúde cardiovascular (31).

Estime a sua saúde! A possibilidade de sofrer um infarto ou de sofrer danos permanentes no coração deveria ser o suficiente para as pessoas evitem o clembuterol todo o custo, a menos que tenham que o fazer por expressa indicação médica.

Em vez de se aventurar a ingerir comprimidos de proveniência duvidosa, caso pretenda perder peso, procure obter acompanhamento por parte de profissionais qualificados, que compreendem os seus objetivos e que o podem acompanhar na sua busca de um corpo mais estético, sem agravar ou arriscar a sua saúde.

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