Os esteróides anabolizantes são um tópico problemático e o apelo ao seu consumo parece ser sentido não só por atletas,(1) mas também por praticantes de musculação, sobretudo homens jovens.(2)
De facto, verificou-se que 20,6% dos culturistas residentes no município de João Pessoa, no Brasil, usavam Esteróides Anabólicos Androgénicos (EAA). A maioria dos consumidores eram homens jovens (98,1%), e grande parte (49.5%) já contava com mais de 4 anos de experiência de treino.(3)
O número de compostos atualmente disponíveis e consumidos impressiona,4 e os mais populares parecem ser o Deca-Durabolin (nandrolona), Winstrol (estanozolol), e o Sustanon (testosterona).(3)
Não restam dúvidas relativamente à popularidade dos EAA, mas os seus potencias efeitos deletérios para a saúde tendem a ser menos discutidos e até mesmo desvalorizados.
Na verdade, o seu uso implica riscos para a saúde e é muito importante que os seus utilizadores, e potenciais interessados na sua utilização, estejam bem cientes deles.
Desde logo, a administração exógena de testosterona e seus derivados suprime o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, o que se traduz numa diminuição significativa dos níveis das hormonas luteinizante (LH) e folículo estimulante (FSH), o que tem como consequência a atrofia dos testículos, a diminuição da produção de sémen e da sua qualidade, e a diminuição da produção endógena de testosterona.(5)
O aumento dramático dos níveis de testosterona, ou dos seus derivados, pode levar a um aumento da sua conversão em estrogénios, que por sua vez pode causar ginecomastia, a qual poderá tornar-se permanente.(5)
A cessação da administração exógena de esteroides anabolizantes permite a recuperação do ambiente hormonal anterior e da função reprodutiva, mas a recuperação total pode demorar mais de 4-5 meses, e em alguns casos poderá demorar mais de 1 ano.(5)
Entre os mecanismo que podem explicar esse aumento do risco temos o aumento da pressão arterial, alterações do sistema hemostático, com aumento do risco de formação de coágulos sanguíneos, diminuição dos níveis de colesterol HDL, e aumento do LDL, bem como efeitos negativos na estrutura e funcionamento do coração.(5)
Estes efeitos relacionam-se sobretudo com o consumo de EAA orais, ou seja, com o uso de esteroides 17-α-alquilatados como a metiltestosterona, oximetolona, fluoximesterona, noretandrolona e metandienona.(5)
Estes efeitos adversos parecem ocorrer devido ao aumento da pressão arterial mediada por estimulação do sistema renina-angiotensina-aldosterona, e pelo aumento da produção de endotelina; maior produção de espécies reativas de oxigênio, aumento da expressão de mediadores pró-fibróticos e pró-apoptóticos como a TGF-β1, e aumento dos níveis de citocinas pró-inflamatórias, incluindo TNF-α, IL-1b e IL-6.(6)
Os mecanismos por detrás deste fenómeno relacionam-se com a capacidade que os EAA têm de potenciar a hipertrofia das glândulas sebáceas, juntamente com o aumento da excreção de sebo, aumento da produção de lipídios na superfície da pele e o aumento do número de bactérias do tipo Propionibacterium acnes.(7)
De notar que estes e outros efeitos secundários tendem a ocorrer nas primeiras semanas de uso e, frequentemente, as mulheres não se dão conta deles, passando frequentemente despercebidos, e podendo apenas ser detetados aquando da realização de análises ou exames médicos específicos.(5)
Não será de surpreender que a mediana de hospitalizações anuais também foi significativamente mais elevada para o grupo de consumidores de EAA.(8)
Os investigadores responsáveis por este trabalho concluíram que:
Mais grave ainda, já foram reportados casos de infeções com produtos injetáveis que resultaram em abcessos, e necrose de tecidos.(11,12) E sabe-se que grande parte dos produtos que são vendidos no mercado negro são de proveniência duvidosa, de laboratórios clandestinos, contrafeitos e/ou produzidos em condições sanitárias inadequadas. Neste contexto, o risco de infeções e de contaminação com substâncias perigosas é elevado.(11-13)
De referir que grande parte dos muitos efeitos deletérios para a saúde que foram referidos ao longo deste artigo podem ser crónicos. O que significa que o uso de EAA pode ter consequências negativas para a saúde que se irão prolongar durante toda a vida.
Tendo em conta estes dados, não restam dúvidas de que os EAA representam um sério risco de saúde pública e que o seu uso deve ser vivamente desincentivado.
O surgimento e a popularização de competições de culturismo que aplicam sistemas de controlo anti-doping representam uma medida muito correta e que poderá ajudar a que, futuramente, os EAA não façam parte do desporto do culturismo.
De facto, verificou-se que 20,6% dos culturistas residentes no município de João Pessoa, no Brasil, usavam Esteróides Anabólicos Androgénicos (EAA). A maioria dos consumidores eram homens jovens (98,1%), e grande parte (49.5%) já contava com mais de 4 anos de experiência de treino.(3)
O número de compostos atualmente disponíveis e consumidos impressiona,4 e os mais populares parecem ser o Deca-Durabolin (nandrolona), Winstrol (estanozolol), e o Sustanon (testosterona).(3)
Não restam dúvidas relativamente à popularidade dos EAA, mas os seus potencias efeitos deletérios para a saúde tendem a ser menos discutidos e até mesmo desvalorizados.
Na verdade, o seu uso implica riscos para a saúde e é muito importante que os seus utilizadores, e potenciais interessados na sua utilização, estejam bem cientes deles.
Desordens do Sistema Reprodutivo
Os EAA são derivados da testosterona e por isso compreende-se que influenciem o sistema hormonal e, consequentemente, o sistema reprodutivo.Desde logo, a administração exógena de testosterona e seus derivados suprime o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, o que se traduz numa diminuição significativa dos níveis das hormonas luteinizante (LH) e folículo estimulante (FSH), o que tem como consequência a atrofia dos testículos, a diminuição da produção de sémen e da sua qualidade, e a diminuição da produção endógena de testosterona.(5)
O aumento dramático dos níveis de testosterona, ou dos seus derivados, pode levar a um aumento da sua conversão em estrogénios, que por sua vez pode causar ginecomastia, a qual poderá tornar-se permanente.(5)
A cessação da administração exógena de esteroides anabolizantes permite a recuperação do ambiente hormonal anterior e da função reprodutiva, mas a recuperação total pode demorar mais de 4-5 meses, e em alguns casos poderá demorar mais de 1 ano.(5)
Problemas Cardiovasculares
O uso de EAA associa-se a um aumento significativo do risco de problemas cardiovasculares, mesmo em indivíduos jovens, podendo ocorrer cardiomiopatia, fibrilação atrial, dispersão do intervalo QT, acidente vascular cerebral, enfarte do miocárdio, trombose ventricular e embolismo sistémico, insuficiência cardíaca aguda, e morte súbita cardíaca.(5)Entre os mecanismo que podem explicar esse aumento do risco temos o aumento da pressão arterial, alterações do sistema hemostático, com aumento do risco de formação de coágulos sanguíneos, diminuição dos níveis de colesterol HDL, e aumento do LDL, bem como efeitos negativos na estrutura e funcionamento do coração.(5)
Problemas Hepáticos
Aparentemente, o uso de EAA pode causar doenças hepáticas graves, inclusive alterações subcelulares dos hepatócitos, colestase, peliose hepática e hiperplasia hepatocelular, e carcinomas.(5)Estes efeitos relacionam-se sobretudo com o consumo de EAA orais, ou seja, com o uso de esteroides 17-α-alquilatados como a metiltestosterona, oximetolona, fluoximesterona, noretandrolona e metandienona.(5)
Problemas Renais
Os autores de uma revisão sistemática publicada em 2019 verificaram que os EAA podem induzir ou agravar lesão renal aguda, doença renal crónica e toxicidade glomerular.Estes efeitos adversos parecem ocorrer devido ao aumento da pressão arterial mediada por estimulação do sistema renina-angiotensina-aldosterona, e pelo aumento da produção de endotelina; maior produção de espécies reativas de oxigênio, aumento da expressão de mediadores pró-fibróticos e pró-apoptóticos como a TGF-β1, e aumento dos níveis de citocinas pró-inflamatórias, incluindo TNF-α, IL-1b e IL-6.(6)
Acne
Entre 40 a 50% dos utilizadores de EAA sofrem de acne, e verifica-se que estes compostos podem provocar ou agravar a acne já existente,(5,7) podendo também causar o aparecimento súbito de acne fulminante, uma forma muito mais severa e grave desta condição de pele.(7)Os mecanismos por detrás deste fenómeno relacionam-se com a capacidade que os EAA têm de potenciar a hipertrofia das glândulas sebáceas, juntamente com o aumento da excreção de sebo, aumento da produção de lipídios na superfície da pele e o aumento do número de bactérias do tipo Propionibacterium acnes.(7)
Virilização (nas mulheres)
Na literatura científica encontram-se bem documentados casos de virilização na grande maioria das utilizadoras de esteroides anabolizantes, incluindo voz mais grossa, aumento do crescimento do pelo corporal, inclusive facial, calvície androgenética, aumento do clitóris e alterações da libido, maior agressividade, aumento do apetite, acne, irregularidades menstruais e diminuição do tamanho dos seios.(5)De notar que estes e outros efeitos secundários tendem a ocorrer nas primeiras semanas de uso e, frequentemente, as mulheres não se dão conta deles, passando frequentemente despercebidos, e podendo apenas ser detetados aquando da realização de análises ou exames médicos específicos.(5)
Maior Risco de Mortalidade
Num estudo retrospetivo, que acompanhou 545 consumidores de EAA ao longo de 12 anos, verificou-se que a mortalidade foi três vezes mais elevada para o grupo de consumidores, em comparação com um grupo de controlo.(8)Não será de surpreender que a mediana de hospitalizações anuais também foi significativamente mais elevada para o grupo de consumidores de EAA.(8)
Os investigadores responsáveis por este trabalho concluíram que:
Os utilizadores de esteróides anabolizantes androgénicos têm um risco aumentado de morte e significativamente maior de internamentos hospitalares do que os não utilizadores.
Conclusão
Note que o consumo de esteróides anabolizantes pode ter outras consequências negativas para a saúde para além das já referidas, incluindo: Insónias, maior irritabilidade, agressividade, libido, apetite, transpiração, e também aumento do risco de ruturas musculares, lesões tendinosas e fraturas ósseas, queda de cabelo, fadiga, rabdomiólise, estado depressivo e pensamentos suicida.(5,9,10)Mais grave ainda, já foram reportados casos de infeções com produtos injetáveis que resultaram em abcessos, e necrose de tecidos.(11,12) E sabe-se que grande parte dos produtos que são vendidos no mercado negro são de proveniência duvidosa, de laboratórios clandestinos, contrafeitos e/ou produzidos em condições sanitárias inadequadas. Neste contexto, o risco de infeções e de contaminação com substâncias perigosas é elevado.(11-13)
De referir que grande parte dos muitos efeitos deletérios para a saúde que foram referidos ao longo deste artigo podem ser crónicos. O que significa que o uso de EAA pode ter consequências negativas para a saúde que se irão prolongar durante toda a vida.
Tendo em conta estes dados, não restam dúvidas de que os EAA representam um sério risco de saúde pública e que o seu uso deve ser vivamente desincentivado.
O surgimento e a popularização de competições de culturismo que aplicam sistemas de controlo anti-doping representam uma medida muito correta e que poderá ajudar a que, futuramente, os EAA não façam parte do desporto do culturismo.
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