Avançar para o conteúdo principal

Bioimpedância vs Lipocalibrador - Qual o Melhor Método para Determinar a % de Massa Gorda?

Desde há várias décadas que tem vindo a ser desenvolvida uma grande variedade de métodos que permitem estimar a % de massa gorda, com maior ou menor grau de precisão.

Apenas como exemplo, temos a absorciometria de raios-x de dupla energia (DEXA), a ressonância magnética nuclear, o pletismógrafo de deslocamento de ar (BOD POD), a hidrodensitometria, a ultrassonografia, a digitalização fotónica tridimensional, a bioimpedância, e também a antropometria, na qual se avalia a espessura das pregas cutâneas com recurso a um lipocalibrador.

No entanto, no mundo real, a maioria destes equipamentos apenas se encontram em centros de investigação, hospitais ou outros locais de acesso restrito. O seu uso também requer técnicos especializados e tendem a ser dispendiosos, pesados e a requerer bastante espaço físico.

Poucos de nós irão ter acesso aos métodos de avaliação da composição corporal considerados métodos de referência (gold standard), e se quisermos saber qual é a nossa % de massa gorda teremos que optar por um método mais acessível, móvel e económico.

Neste contexto, existem dois métodos que se encontram bem disseminados, a bioimpedância e a antropometria.

Bioimpedância

Este tipo de equipamento usa elétrodos ou contatos de metais para enviar uma corrente elétrica de baixa voltagem ao longo do corpo.

A composição corporal é estimada com base na resistência que o corpo gera a essa corrente. Mais precisamente, a massa isenta de gordura tem um teor de água mais elevado e por isso irá gerar menos resistência do que a massa gorda, que contém menos água.

Vantagens:

  • Trata-se de um método relativamente económico, rápido e prático.
  • A sua aplicação não requer um elevado grau de especialização técnica.
  • É muito pouco invasivo e apenas requer um envolvimento mínimo do sujeito a ser avaliado.

Limitações:

Apesar da aparente sofisticação, o facto de os resultados dependerem do teor de água e de eletrólitos do organismo, representa o principal fator responsável pelo seu nível de precisão insuficiente, e torna-o inadequado para reavaliações e acompanhamento de sujeitos.

De facto, o estado de hidratação e o equilíbrio de eletrólitos são inevitavelmente afetados pela ingestão de fluídos e alimentos, pela prática de exercício físico, pelo ciclo menstrual, por certos medicamentos, e ainda por algumas condições médicas específicas.

Os resultados podem também ser influenciados pela temperatura ambiente, sendo que o frio aumenta a impedância, e ainda por um conjunto de outras variáveis.

Antropometria (lipocalibrador):

Este método envolve a medição da espessura da dobra cutânea com um equipamento similar a um paquímetro (lipocalibrador). As medições são efetuadas em vários locais, de modo a se obter uma medição geral da adiposidade subcutânea.

Dentre as várias metodologias criadas até à data, destaca-se a norma ISAK, a qual prevê a medição de 8 pregas cutâneas.

Os valores obtidos podem ser inseridos numa equação, que irá retornar o valor de % de massa gorda. Em alternativa, é possível usar o somatório de todos os valores obtidos.

De notar que, até à data, já foram desenvolvidas mais de 100 equações para estimar % de massa gorda, a partir das medições das pregas cutâneas, o que pode causar confusão relativamente à equação mais adequada a aplicar numa determinada população.

Vantagens:

  • O custo desta avaliação é relativamente baixo, pois apenas requer um lipocalibrador e uma fita métrica.
  • Os valores são confiáveis quando recolhidos por técnicos experientes.
  • É o método menos afetado pelo estado de hidratação e pela ingestão de refeições.

Limitações:

  • É um método mais demorado e intrusivo do que a bioimpedância e requer maior manipulação do sujeito a ser avaliado.
  • Requer um grau significativo de especialização e experiência por parte do avaliador.
  • A reavaliação de uma prega cutânea em apenas 1 cm de diferença do local anteriormente medido pode afetar os resultados de forma significativa. Também por esse motivo, as reavaliações devem ser efetuadas sempre pelo mesmo técnico.
  • As avaliações não devem ser conduzidas após a prática de exercício físico devido ao aumento do fluxo sanguíneo na pele (hiperemia), que aumenta a espessura das pregas.
  • A sua aplicação não é possível em populações extremas, inclusive em indivíduos obesos.
  • As equações são específicas para determinadas populações e necessitam de ser validadas para a amostra em questão.

Comentários finais

Tendo em conta a literatura científica existente, a avaliação antropométrica representa um método mais preciso e confiável de avaliação da percentagem de gordura corporal do que os equipamentos de bioimpedância.

Também de acordo com um parecer publicado pelo Comité Olímpico Internacional (I.O.C.) em 2012:

A antropometria é um método simples e altamente portátil para estimar a composição corporal. Desde que o técnico que efetua a avaliação esteja bem treinado e siga um protocolo padrão.

Também referem que:

Claramente, a bioimpedância não é um método suportado para avaliar ou monitorizar a composição corporal. Este não é um método preciso, pois pode retornar valores que se desviam de forma significativamente comparativamente ao valor obtido com um método de referência.

➤ Mostrar/Ocultar Referências!
  1. Jensen NS, Camargo TF, Bergamaschi DP. Comparison of methods to measure body fat in 7-to-10-year-old children: a systematic review. Public Health. 2016;133:3-13.
  2. Kasper AM, Langan-Evans C, Hudson JF, et al. Come Back Skinfolds, All Is Forgiven: A Narrative Review of the Efficacy of Common Body Composition Methods in Applied Sports Practice. Nutrients. 2021;13(4):1075.
  3. Araújo D, Teixeira VH, Carvalho P, Amaral TF. Exercise induced dehydration status and skinfold compressibility in athletes: an intervention study. Asia Pac J Clin Nutr. 2018;27(1):189-194.
  4. Ackland TR, Lohman TG, Sundgot-Borgen J, et al. Current status of body composition assessment in sport: review and position statement on behalf of the ad hoc research working group on body composition health and performance, under the auspices of the I.O.C. Medical Commission. Sports Med. 2012;42(3):227-249.
  5. Ugras S. Evaluating of altered hydration status on effectiveness of body composition analysis using bioelectric impedance analysis. Libyan J Med. 2020;15(1):1741904-1741904.
  6. Pateyjohns IR, Brinkworth GD, Buckley JD, Noakes M, Clifton PM. Comparison of three bioelectrical impedance methods with DXA in overweight and obese men. Obesity (Silver Spring). 2006;14(11):2064-2070.
  7. Moon JR. Body composition in athletes and sports nutrition: an examination of the bioimpedance analysis technique. Eur J Clin Nutr. 2013;67 Suppl 1:S54-59.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Os Suplementos Termogénicos Funcionam?

A obesidade encontra-se classificada como uma doença crónica cuja prevalência tem vindo a aumentar ao ponto de atualmente ser considerada uma pandemia. ¹ Atualmente, verifica-se que a maioria da população europeia (60%) encontra-se na categoria de pré-obesidade, ou obesidade. ¹ Em Portugal o cenário é relativamente similar, com 57,1% dos indivíduos a apresentar um índice de massa corporal ≥25 kg/m². ²   Logicamente, esta população numerosa representa um mercado apetecível para as empresas envolvidas na produção e/ou comercialização de suplementos alimentares, que ambicionem aumentar as suas vendas.  Do conjunto de suplementos direcionados para a perda de peso/gordura, destacam-se os termogénicos, os quais, supostamente, promovem um aumento da lipólise através de um aumento do metabolismo, induzido por determinados compostos presentes nesses suplementos.  Mas será que os suplementos termogénicos efetivamente facilitam a perda de peso ou de gordura em indivíduos pré-obesos ou obesos?  Cl

Quanta proteína é possível absorver por refeição?

Dentre a série de tópicos relativamente controversos englobados no mundo da nutrição temos a questão da quantidade de proteína que o corpo humano consegue absorver no seguimento de uma dada refeição. Relacionado com a mesma temática, temos a questão da definição da quantidade de proteína que idealmente se deve ingerir após a execução de um treino resistido, com vista a maximizar a síntese de proteína muscular. Estudos publicados até há poucos anos concluíram que a ingestão de 20 a 25 g de proteína de boa qualidade (whey, proteína do leite, ou proteína de ovo) após um treino de musculação direcionado à musculatura dos membros inferiores seria o suficiente para maximizar a síntese de proteína muscular em adultos jovens e saudáveis, sendo que em doses superiores os aminoácidos “excedentários” seriam simplesmente oxidados. 1,2   Entretanto, em 2016, os autores Macnaughton et al. 3 verificaram que a suplementação com 40 g de proteína whey após uma sessão de treino de musculação de corpo i

É Melhor Perder Peso de Forma Rápida ou Lenta?

A perda de gordura pode proporcionar vários benefícios para a saúde daqueles que têm excesso de peso. ¹⁻² e é uma necessidade imperativa para atletas de determinados desportos e para aqueles que participam em competições de culturismo e similares.³ No entanto, independentemente do ritmo a que se perde peso, há uma série de consequências negativas que são praticamente impossíveis de evitar. Esses efeitos indesejáveis incluem a diminuição da taxa metabólica basal em repouso,⁴ dos níveis de testosterona,⁵ perda de massa magra,⁶ e diminuição da força muscular.⁷⁻⁸ De forma a minimizar esses efeitos negativos, são muitos aqueles que evitam as dietas mais drásticas, do tipo yo-yo e que, em vez disso, aconselham uma perda de peso lenta, por exemplo, de 0,5 kg de peso corporal, por semana.³ O que diz a ciência? Já foram conduzidos variados estudos que procuraram determinar qual a velocidade de perda de peso que melhor preserva a taxa metabólica, a massa magra, bem como os níveis de testosterona